Portugal quer trilhos e a Vertente Magenta vai fazê-los

Quando conseguimos chegar à fala com Alexandre Domingues estava ele mais uma vez na ilha de Santa Maria, acompanhado, como sempre, pela sua bicicleta.

É lá, de resto, que tem passado longos períodos nos últimos três anos, mais concretamente desde que a empresa que dirige, a Vertente Magenta, aceitou o convite do Governo Regional dos Açores, para avançar com o primeiro dos nove Centro Cyclin’Portugal previstos para as nove ilhas.

Na verdade, a primeira ilha a ser descoberta pelos portugueses no arquipélago será também a primeira a ver concluído o projeto.

Enquanto ideólogo do projeto, não esconde o orgulho que sente, pois está ali um pouco de si. Ainda por cima, é um projeto muito abrangente – como se pretende – e apto para quatro disciplinas (BTT, enduro, estrada e gravel).

Mas as malas já estão feitas, porque depois deste vem logo outro. Já está definido o próximo a avançar nas ilhas. Será na ilha Terceira, mas a produção de pistas e centros de BTT no continente também não pára. Alexandre anda num corrupio com as malas e a bicicleta atrás.

Hoje, a empresa de Leiria tem obra feita um pouco por todo o país, de Lagos – o mais utilizado do país – a Manteigas, dos Belmonte à Serra do Alvão. Daqui a dias será inaugurado o Centro Cyclin’ de Paredes de Coura e até ao fim do ano também o de Albufeira abrirá portas, sempre com a chancela da empresa de Leiria.

Na verdade, há muitos municípios interessados neste tipo de projetos, pois há uma tendência crescente da utilização da bicicleta enquanto meio de transporte saudável e sustentável, mas também no âmbito do recreio e do turismo ativo.

Por isso, novos desafios não faltam e tem de ser o responsável a perceber o que quer e o que não quer fazer.

Mapas e GPS

Os mapas sempre exerceram sobre Alexandre Domingues um fascínio fora do comum. Quando começou a praticar BTT, há duas décadas e meia, passava os domingos à tarde com as cartas militares estendidas na mesa da sala a perceber por onde tinha passado naquela manhã, a todo o gás, na companhia dos amigos.

Diz, em jeito brincadeira, que o pai lhe instalou um GPS no cérebro, tal o sentido de orientação que ostenta. Não instalou, é certo, mas os amigos impressionavam-se com a precisão com que idealizava percursos e calculava distâncias.

E a verdade é que essa capacidade só lhe trouxe vantagens, longe de imaginar, contudo que poderia ser o gatilho para um negócio.

Mais tarde, já com experiência de campo proporcionada pelas organizações à frente da associação Airbike e no Leiria e Marrazes, localidade onde construiu a primeira pista permanente de cross country olímpico do país, chegou a ser responsável pela área de BTT na Federação Portuguesa de Ciclismo.

Só que o facto de cada mais ser solicitado para desenvolver projetos de construção de pistas, trilhos e centros de BTT, e para não existirem incompatibilidade, acabou por fazer uma passagem curta. Foi, pois, já com “muita escola” e vontade de se agarrar “de corpo e alma” a esses projetos que nasceu a Vertente Magenta. O objetivo? “Fazer percursos que desafiassem as pessoas.”

Mãos na massa

Com 25 anos de ligação ao BTT, Alexandre Domingues quer que as pessoas se divirtam tanto como ele a percorrer os trilhos que traça, mas alega isso, só, não pode chegar.

Daí a necessidade de fazer, antes de arrancar, “estudos exaustivos e reconhecimento pessoal do território” em causa. O “zelo comercial” fá-lo “saber as coisas pelos nomes”. “Não posso ser apanhado na curva e é importante criar uma ligação forte com a comunidade para que sinta que é um projeto que também lhe pertence”, sublinha.

Depois, o mais importante, entende, é “criar uma rede de percursos com qualidade que passe por muitas belezas naturais e com zonas de interesse cultural”.

Só o trilho, por muito bom que seja, não chega, “também é importante criar retorno”.

“Mais vale ir ao asfalto e passar por um local que faça parte do ADN daquela terra ou até por algo ponto de interesse comercial, porque isto são projetos comerciais. É isso que faz as câmaras terem interesse.”

A necessidade de a manutenção dos trilhos estar garantida e também da divulgação são dois pontos inegociáveis.

“Se assim não for, o centro é inaugurado e depois morre. Não imaginam a quantidade de centros que foram criados em Portugal e como não houve esse cuidado ninguém fala deles.”

Mas também convém não “embandeirar em arco” com apostas demasiado tecnológica que “vão ter muito pouca utilização”. “Isso nunca funciona. O que faz a diferença é a qualidade do trabalho no terreno.”

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