Encontramos João Paulo Moreira todo feliz em Malang, na ilha de Java, acabadinho de conquistar uma importante competição do futebol indonésio.
É só mais uma paragem exótica na vida desde treinador de Leiria que desde 2015, quando aceitou uma proposta para ir treinar para a China, tem sido um corrupio.
Na altura treinava os mais pequenos do GRAP e encarou o convite como um desafio. Dos grandes, com certeza, pois não se parte para o outro lado do mundo de ânimo leve.
Para trás, enquanto futebolista, ficara a formação na União de Leiria, uma época na 3.ª Divisão pelo Caranguejeira e vários anos pelos distritais, até deixar de continuar a “desperdiçar tempo”.
Na China, esteve na cidade de Xian durante três anos. Treinou dos sub-5 aos sub-17, mas não se sentia realizado e regressou a Portugal, por pouco tempo.
Em 2018 surgiu um convite para ser preparador físico da seleção da Guiné-Bissau que ia disputar a Taça das Nações Africanas de 2019 e esteve no país lusófono como assistente de Baciro Candé durante um ano.
A experiência seguinte foi em Malta, na ilha de Gozo, onde orientou o Sannat Lions, uma equipa da 1.ª Divisão local, mas rapidamente saiu por iniciativa própria, pois com as condições que lhe concederam estava “mais perto do insucesso do que do sucesso”.
Foi no dia 1 de maio, há pouco mais de dois meses e meio, que partiu para a última aventura, a que decorre, depois de surgir a oportunidade de ser preparador físico do Arema FC, importante equipa do futebol indonésio orientada pelo também português Eduardo Almeida.
Ora, em pouco mais de 75 dias já ficou a conhecer a real dimensão do clube que representa e a conquista da Taça do Presidente, uma espécie de Taça da Liga disputada no início da temporada, mas “com uma importância maior”, que levou à loucura os milhões de adeptos do emblema. E soltou-se a “aremania”.
A cidade de Malang, com 850 mil habitantes, tem um “trânsito absurdo de mota”, mas nada lhe falta. “Há uma organização dentro do caos”, nota o treinador, que reside num “condomínio enorme” onde também moram o treinador Eduardo Almeida, o guarda-redes brasileiro Maringá, o central português Sérgio Silva e o avançado Abel Camará, que ainda na temporada passada alinhava no Belenenses.
A qualidade do futebol praticado surpreendeu o treinador de Leiria. “Não é descabido. Tem muita velocidade e muita técnica”, sublinha João Paulo Moreira, de 36 anos.
Mas o que o impressionou mesmo foi a farra que fazem à volta de um jogo de futebol. “Nunca tinha visto nada assim. A atmosfera nos estádios é impressionante. Estão sempre cheios, há sempre coreografia e a festa que fazem é incrível.”
Feliz com a opção, não pensa voltar. Mesmo tendo noção que pode estar a sacrificar uma parte da vida. “
“Sinto-me valorizado profissionalmente, o que em Portugal não acontece. Consigo ser profissional, conheço outros mundos, culturas e formas de pensar. Tenho posto o futebol à frente da vida pessoal. Se calhar um dia vou pagar por isso. Não sei se me vou arrepender, mas pelo menos posso dizer que tentei.”
Fotos: Arema FC