A carreira de atleta já acabara. João Pedro Severino deixara de combater há mais de uma década. Sentia-se orgulhoso com a fartura do currículo construído em 29 anos de dedicação à causa, onde cabiam mais duas dezenas de lugares no pódio em campeonatos nacionais, de kickboxing e muaythai, mas havia algo que fazia despertar o desejo de, além de ser um treinador de sucesso, também regressar ao ativo para mais uma aventura.
É que os filhos, Pedro e Simão, de 14 e sete anos, começaram bem novos, levados pelo pai, e já chegaram à idade de disputar campeonatos. E ele, que os formou, apesar de ter já 49 anos, quis viver a honra suprema de partilhar as mesmas competições com os miúdos lá de casa. Teve de voltar a treinar a fundo, “duas vezes por dia”, preocupar-se com a alimentação e focar-se no espírito competitivo para voltar a poder ganhar.
E ganhou, na verdade. Ele e os filhos. Além da emoção, do orgulho e da diversão que viveram, por estes dias, estes atletas do Lis Tiger Club, com sede na Boa Vista, chegaram a casa repletos de medalhas. Está-lhes no sangue, aliás. O mais velho, apesar da tenra idade, já conta com seis títulos de campeão nacional.
“Nasceram no ringue e é uma parte importante da vida deles, apesar de também jogarem futebol no Leiria e Marrazes. Ainda estão na idade de fazer as duas coisas e acredito que lhes faz bem, pois as modalidades de combate e as coletivas devem ser complementares”, explica o progenitor.
Os resultados não deixam margem para dívidas: o filho mais velho sagrou-se campeão nacional de kickboxing, o mais novo de muaythai e ele de ambas. “Não é uma questão genética, é apenas muita força de vontade. Isto funciona com o querer, porque podemos ser desajeitados, mas se tivermos vontade, quem prevalece ganha e quem desiste nunca vai saber se podia ser bom.” A consistência é meio caminha andado para o sucesso, garante.
Contudo, com o sonho cumprido, vai arrumar as luvas e voltar em exclusivo à tarefa de treinador. Ainda podia fazer mais um ano se houvesse Mundial de veteranos em 2022, mas a prova foi cancelada. Agora, quer ajudar a formar pessoas e fazer passar os princípios que norteiam estas artes marciais em concreto.
“Além de ajudar as pessoas a defenderem-se e a elevar a autoestima, dá uma segurança muito grande, porque aprender a defender-se e aprender a nadar são as atividades mais importantes. Socialmente, e ao contrário do que se pensa, as pessoas que andam nas artes marciais tornam-se muito mais calmas e conseguem relacionar-se melhor com os outros. Não formamos atletas, formamos homens” completa João Pedro Severino.