Bernardes Dinis tem dois filhos e são fruto da relação apaixonada com o Sporting

A vida tem sido, toda ela, dedicada ao clube de Alvalade. De tal forma que se ordena um “frade do Sporting”. Desta relação apaixonada e apaixonante, José Bernardes Dinis diz ter um “filho” e uma “filha”. Se o primeiro é o Museu do Sporting em Leiria, a segunda é a gala Rugidos de Leão, cuja 40.ª edição se realiza esta sexta-feira, na Quinta do Paul, na Ortigosa.

Filho de benfiquista, Bernardes Dinis assinou pelo verde e branco devido ao entusiasmo que existia nos finais dos anos quarenta do século passado em torno dos “cinco violinos”. O pai era carcereiro da cadeia de Leiria, onde residia e, por isso, o museu acabou por nascer na prisão. “Foi fruto de um castigo que o meu pai me aplicou quando tinha 12 anos. Fechava-me à chave para estudar, mas eu não tinha vocação para os estudos”, explica este antigo empregado de escritório, de 77 anos.

“Queria fazer tudo menos estudar. Tinha um armário de parede que já tinha muitas coisas alusivas ao Sporting: jornais, fotografia e revistas. Lembrei-me de fazer recortes de tudo o que era Sporting, fosse andebol, atletismo, bilhar ou futebol, que depois eram colados com farinha de trigo e água, porque não havia cola. Já adorava estar castigado, porque estava a fazer uma coisa que me deslumbrava.”

Estava Bernardes Dinis longe de imaginar que esse castigo possibilitaria a composição da coleção e, por consequência, “possibilitar ao Sporting ser o único clube no Mundo com dois museus oficiais, o de Lisboa e o de Leiria”.

Todos os dias, sábados e domingos incluídos, ele está lá. Quando está só e se recorda de como a sua obra cresceu, comove-se e chora. Entre as inúmeras peças em exposição, a réplica da Taça das Taças conquistada em 1963/64, localizada logo à entrada do espaço, é motivo de orgulho. Toda ela em prata e banhada a ouro, custou cinco mil euros conseguidos com “muito esforço”.

Mas o espólio associado ao clube de Francisco Stromp, cujo busto acompanha Bernardes Dinis na foto, é “incontável”. Do futebol ao atletismo, passando pelo andebol, pelo futsal, pelo kickboxing, todos estão representados, bem como as glórias de Peyroteo, Yazalde, Naide Gomes, Carlos Lopes, Figo e Ronaldo.

Bernardes Dinis vai para o museu e limpa, aspira, orienta as visitas guiadas, atende na Loja Verde, faz os recortes dos jornais e muda lâmpadas com a mesma energia de sempre e sempre, sempre por amor à camisola.

A vida deste “lírico, mas não parvo” tem apenas dois focos, a família e o clube de Alvalade. “Sabia que o Sporting é o único clube do Mundo que se pode orgulhar de ter formado dois jogadores eleitos como melhores do Mundo? E que nos anos de 1980 o Sporting chegou a ser o clube mais eclético e com mais sócios do Mundo, cerca de 135 mil? Sabia que os três clubes com mais participações nas competições europeias de futebol são o Sporting, o Barcelona e o Real Madrid?”

A outra paixão de Bernardes Dinis é a gala Rugidos de Leão. Esta sexta-feira, 1.500 adeptos de “todos os cantos do mundo” vão estar presentes na 40.ª edição do evento que, uma vez mais, se realizará na Quinta do Paul, e demonstra a “vitalidade” do clube.

“As pessoas dizem que o Dinis já está calejado, já anda nisto há 40 anos e tem maturidade suficiente para não andar tenso, mas, quando somos responsáveis, cada evento tem uma responsabilidade renovada e é essa responsabilidade que me fascina.”

Este ano, uma vez mais, os Rugidos de Leão serão “o testemunho e um autêntico hino de louvor à grandeza perene do Sporting”. A mãe de Cristiano Ronaldo, Rúben Amorim, Sebastián Coates, Hugo Viana e Pedro Gonçalves são cinco das duas dezenas de distinguidos na gala que regressa após dois anos de hiato provocado pela pandemia.

“Não há nenhum clube do País que tenha um evento desta dimensão. Por norma, deito-me às oito da noite e levanto-me às cinco da manhã. Com o aproximar dos Rugidos, acordo às três da manhã e já não consigo dormir. A maior homenagem que me podiam fazer era este evento nunca acabar. Deus queira que me engane, mas receio que isso aconteça.”