A água ainda nem tinha assentado e já Rodolfo Alecrim chorava. Não foi pela dor, nem pelo cansaço. Foi por tudo o que ali estava — comprimido num tempo de 52,43 segundos. Um tempo que lhe valeu o 3.º lugar na final dos 100 metros livres no Festival Olímpico da Juventude Europeia, em Skopje. Mas o que ali pesava no peito, mais do que o bronze, era a história que vinha atrás.
O nadador do Clube Náutico de Leiria chegou à Macedónia do Norte determinado a sair diferente do que entrou. E saiu. Não apenas medalhado, mas transformado. Porque há marcas que não se veem no cronómetro, nem se medem na tabela. São feitas daquilo que se supera por dentro.
Foi a terceira vez em três dias que bateu o seu recorde pessoal, desta vez acompanhado pelo máximo alguma vez feito por um português do escalão juvenil B. E nem se conte com a mão o número de recordes nacionais que já leva este ano: são mais de duas dezenas. Um ano inteiro de entrega, de treinos duros, de madrugadas que começam ainda a cidade dorme. Um ano com João Paulo Fróis ao lado, a orientar-lhe o caminho, a puxar quando faltava força, a amparar quando sobrava emoção.
A final foi tudo o que se esperava de uma prova com os melhores da Europa. O italiano Daniele Fiorelli levou o ouro com 51,89. O bielorrusso Mikita Liakh garantiu a prata com 52,18. E depois, ali, entre os gigantes, Rodolfo Alecrim. “Foi bastante emocionante ganhar esta medalha. Assim que olhei para o placard comecei logo a chorar. Esta medalha representa todo o esforço, dedicação e a paixão pelo desporto que tenho e tudo o que fui fazendo ao longo do ano.”
Nos últimos 25 metros, a batalha deixou de ser com os outros. Foi contra si mesmo. “A cabeça dizia ‘vai, vai, vai’, mas o corpo gritava ‘para, para, para’. Mas continuei na luta. E foi espetacular.”
E foi. Porque há medalhas que pesam, mas só algumas tocam fundo. E esta, para Rodolfo, será sempre a mais leve — porque veio depois de tanto peso carregado em silêncio.