Em 2022, Eric Domingues passou sem glória pelo Campeonato do Mundo de veteranos. Foi eliminado logo no primeiro combate e regressou a casa com a moral em baixo. Sabia, por isso, que para 2023 tinha de “mudar completamente” o processo de treino, por forma a voltar aos tempos em que era figura temida na prova, como quando chegou à final e conquistou duas medalhas de prata, alcançadas em 2015 e 2019.
“A minha família sabe o que passei. Fui de um comprometimento total. Acordava às seis da manhã para ir treinar, quase sempre bidiários, outros dias com três treinos. Ainda tinha as aulas e os miúdos no Santo Amaro, pelo que acabava os dias às 21:30 horas e jantava às 22 horas”, explica o atleta que tinha de ter “alimentação rigorosa e muita suplementação”.
Só que o falecimento do progenitor, em abril, condicionou todo o processo de preparação. Mas também foi a força adicional que levou o judoca e treinador do Grupo Desportivo Santo Amaro, da Ortigosa, à conquista da medalha de ouro.
“É a realização de um sonho, uma vitória que quero dedicar ao meu pai, que não teve oportunidade de me ver campeão, mas sabia que trabalhava muito para que isso acontecesse. Não sei explicar, mas sinto que ele esteve lá a ajudar-me. Aquele era o meu dia e parecia que ninguém me podia derrotar”, conta Eric Domingues.
É verdade: temos, em Leiria, mais um campeão mundial. O judoca de 43 anos venceu, no passado dia 1 de novembro, a categoria de peso de -66 kg do escalão M3 da competição global disputada em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.
“À terceira foi de vez. Estou muito contente, até porque a minha estratégia deu resultado. Habitualmente sou muito agressivo e tento o ippon, mas desta vez fui mais tático, tentei pontuar para depois gerir os combates”, explica Eric Domingues.
A verdade é que deu resultado. Venceu o australiano Lito Uyami e o cazaque Yerken Zakhgupov antes de chegar à meia-final, etapa na qual ultrapassou um adversário italiano, Gianno Piscirella, e conquistou o direito de disputar o ouro. Na final, derrotou o atleta húngaro Sinka, quatro vezes vice-campeão mundial. “Geri, na altura certa ataquei e projetei o adversário.”
A verdade é que nem sequer teve tempo para festejar devidamente o feito incrível que alcançou. Quando falámos com ele tinha acabado de cumprir um período letivo na escola de Vieira de Leiria. “Nem deu tempo para comemorar, porque voltámos logo à labuta. Foi chegar, dormir, levantar e ir para as aulas. Nem deu tempo para nos adaptarmos o jet-lag”, conta o judoca. É assim, a vida de amador com atitude e talento dignos de profissional.