Como um talude se transformou num centro de testes para carros de rali

Armindo Araújo estava encantado. O piloto de Santo Tirso, duas vezes campeão mundial de produção e com seis títulos de campeão nacional no currículo, rapidamente percebeu as vantagens de poder testar o Skoda da equipa The Racing Factory na pista de terra dos arredores de Leiria.

E disse, mal tirou o capacete, que o Gravel Test Center se trata de “um espaço de grande qualidade e com características fantásticas”.

“O traçado é bastante seletivo, com zonas rápidas, lentas, a subir e a descer e sempre com um elevado nível de segurança”, completou.

E tudo começou com uma daquelas coincidências. Um dos seus mecânicos, Guilherme Outeiro, é filho do proprietário do terreno onde a pista está implantada e acabou por ter um papel decisivo na profissionalização do espaço.

Foi, de resto, naquele terreno de 50 hectares, na Pega, no limite entre as freguesias de Souto da Carpalhosa e de Bidoeira de Cima, que Guilherme aprendeu a conduzir, tal como o irmão Eduardo, ao volante de um Toyota 1200.

Como tudo começou? Com os olhos induzidos pela paixão que o seguia desde criança, o pai, José Outeiro, viu uma pista onde os outros não viam mais do que um talude para demarcar as extremas do terreno.

“Infelizmente”, o pai e os irmãos “não gostavam de automóveis”, mas havia “qualquer coisa” que “desde miúdo” o puxou para os ralis.

Não sabe se era o “barulho dos carros”, se a velocidade estonteante, a verdade é que aos 14 anos já ia, com os amigos, assistir, excitado, às provas que ocorriam na região de Leiria.

Contudo, “a vida” nunca lhe permitiu que pudesse entrar de forma oficial na disciplina e só em 2010, já com 47 anos, é que teve oportunidade de fazer o Rallye Verde Pino, com um histórico BMW 320is.

A pista da Pega era como se fosse um brinquedo. Começou a percorrê-la “com mais rapidez, mais atravessadelas e mais gozo” e aos sábados era lá que juntava os amigos.

Até que em meados do ano passado a coisa se tornou mesmo séria, com a The Racing Factory a assumir a gestão do espaço. “Proporcionou-se uma visita e achámos o conceito interessante e com potencial enorme para se alavancar a ideia, que é comum, de colocar o espaço ao dispor de pessoas aficionadas do desporto automóvel”, explica Justino Reis, chefe da equipa de Santa Maria da Feira.

Além das diversas pistas disponibilizadas com zonas rápidas e lentas, o Gravel Test Center reúne um conjunto de “excelentes condições” para apoiar o trabalho das equipas, nomeadamente uma base de trabalho em zona limpa, com disponibilidade de pontos de eletricidade, pontos de água e até um balneário.

“É um espaço de qualidade, com princípios de utilização, e não um espaço de aceleras, de utilizadores só para dar gás. É uma excelente base para que os pilotos possam testar e desenvolver as viaturas num espaço com total segurança e privacidade, num trajeto desenhado para maximizar a possibilidade de afinação em pisos de terra, com um conjunto de cocktails bastante interessante e que tem sido elogiado.”

Já estão disponíveis trajetos que variam entre circuitos curtos, com cerca de 800 metros, até versões mais longas, com 3.500 metros. “A qualidade das instalações, as infraestruturas e a qualidade do traçado cria uma”, sublinha Justino Reis.

Como gestora do espaço, a equipa foi, naturalmente, “a primeira” a retirar mais-valias. “É bom trabalhar num local em que temos termos de comparação com outros pilotos.”

Armindo Araújo, Ricardo Porém, João Ferreira, Miguel Barbosa, Filipe Campos, Ernesto Ferreira (na foto de cima), Rafael Cardeira (na foto de baixo) e Pedro Figueiredo são alguns dos (muitos) pilotos de rali e todo-o-terreno que tiveram a oportunidade de testar no local.