Idosos aprendem capoeira em Santa Eufémia e alguns deles têm muita ginga

“Dona Maria, como vai você? Joga bonito que eu quero aprender! Dona Maria como vai você?”

Há uma semana que os utentes do Lar Eira da Torre aguardavam ansiosamente a chegada do Grupo de Capoeira Ginga Camará para mais uma sessão semanal.

É que as segundas-feiras tornaram-se muito mais divertidas desde que, no início do ano, passaram a receber a visita de Jimmy Almeida, ou Mestre Papagaio, acompanhado por Joana Palhas, ou Beringela, em “aulas” desta mistura de arte marcial, dança e música.

Ainda para mais, tendo começado as férias escolares, a família pôde deslocar-se a Santa Eufémia completa: o Rodrigo, ou Periquito, e a Iara, ou Espoleta, acompanharam os pais, o que deixou todos (ainda mais) embevecidos.

“Bom dia, Dona Maria. Como vai você?” Mestre Papagaio solta o berimbau e põe as notas a saltar. Os utentes não poderiam querer mais. É um espetáculo que, ao mesmo tempo, contribui para seu o bem-estar físico e psicológico.

O pé começa a mexer-se. Naquele lar de Santa Eufémia, o aquecimento é feito a cantar, sempre com muito improviso. “Idalina vem pra roda, vem mostrar o seu gingado, o toque do berimbau que lhe fez o chamado!” Os utentes fazem o coro: “Idali-na!”

E começam os exercícios. Levantam os braços e as pernas, movimentam-nos da esquerda para a direita e da direita para a esquerda.

“Todo este trabalho que é feito é muitíssimo importante para a coordenação motora”, enfatiza o responsável, satisfeito pelo facto de a distância inicial ter sido rapidamente substituída pela adesão aos desafios e, sobretudo, pelo muito carinho com que são sempre recebidos.

Que o diga a dona Inácia, que não passa sem um beijinho.

“Tem sido surpreendente pela resposta. No começo havia deles que nem se mexiam. Agora, já os vemos rindo, participando e isso é mesmo muito gratificante”, explica Joana Palhas.

O grupo entra nas brincadeiras dos utentes e siga a música! “O que é o berimbau? Uma cabaça, um arame e um pedaço de pau!”

“A capoeira tem esse poder”, continua Mestre Papagaio. “Tanto para trabalhar com crianças, como com adultos, ou mesmo idosos. Consegue ir buscar o que é necessário para cada um deles. No caso das crianças é uma questão mais lúdica e de desenvolvimento e em adultos a parte de luta e de defesa. Aqui, no lar, o que trabalhamos com eles é a coordenação motora e o ritmo. Mesmo que as faculdades físicas já tenham algumas dificuldades, as questões rítmicas estão lá todas.”

E se há alguns que fazem os exercícios sentados, também há aqueles, como o senhor Manuel, que já fazem o movimento sincronizado básico da capoeira, a ginga.

É uma alegria. Todos vibram quando veem o Mestre Papagaio a gingar com um deles.

O projeto Gingando na Melhor Idade, apoiado pelo Município de Leiria, ainda só foi posto em prática no Lar Eira da Torre, mas está a encantar. “Estão surpreendidos. Acreditaram no projeto, deixaram-nos avançar e todos os dias nos dizem: ‘Joana, como é possível? Esta senhor não interage, nunca quer participar, mas na capoeira já é diferente!’”

É verdade. A hora passou a correr para todos. Para despedida pedem a “Idalina” outra vez. E é mais uma manhã que Jimmy Almeida passa de “coração cheio”. “Seja por melhorarem a coordenação motora, por saberem uma música nova ou simplesmente por um sorriso, valerá sempre a pena.”

Comentários

  • Maria Cruz
    3 Abril, 2023 @ at 20:21

    Excelente iniciativa. Contribuição para o bem estar dos mais idosos. Acredito que fiquem todos de ❤️ cheio. Bravo.

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