No silêncio do deserto, onde a resistência se mede em cada grão de areia, João Ferreira carrega o sonho de um país. O piloto natural de Leiria, que fará este ano a sua estreia na Ultimate, a categoria principal do Dakar Rally, está determinado a lutar por um lugar entre os 10 primeiros da competição mais exigente do mundo motorizado.
Guiando um Mini John Cooper Works Rally Plus, verdadeiro prodígio da engenharia automóvel, Ferreira abraça um novo capítulo da sua carreira. Este veículo, desenvolvido pela consagrada equipa X-Raid, é equipado com um motor diesel de 3.0 litros, tração integral e um chassis leve mas reforçado, concebido para resistir às condições extremas do deserto saudita. “Este carro é uma máquina incrível. Mais confortável nas ligações, mas muito mais físico e desafiante nas dunas. Vai ser um grande teste”, revela o piloto.
Com um impressionante currículo que inclui os títulos nacional, europeu e a Taça do Mundo FIA de Bajas, Ferreira soma agora a sua terceira participação no Dakar, após dois anos nos “aranhiços” da categoria SSV, onde venceu quatro etapas e esteve a apenas sete minutos da liderança em 2024. Desta vez, a aposta é maior: o objetivo não é apenas terminar, mas fazê-lo entre os 10 melhores.
“O objetivo é cumprir etapas todos os dias, com o mínimo de erros, e chegar ao fim. Um top-10 seria um sonho concretizado”, afirma. Ao seu lado está o experiente navegador Filipe Palmeiro, que já participou 18 vezes no Dakar e conhece como poucos os segredos do deserto.
Mais do que um sonho individual, João Ferreira acredita que a sua jornada pode inspirar outros talentos portugueses: “Quero mostrar que Portugal tem capacidade de competir com os melhores. Temos uma equipa fantástica e uma preparação impecável. Acredito no nosso potencial.”
A confiança do piloto leiriense não é por acaso. Desde que terminou o Dakar 2024, Ferreira tem-se preparado intensamente, afinando não só a sua forma física, mas também ajustando a estratégia com a sua equipa. “Estou na minha melhor forma de sempre. Temos um carro que já ganhou, uma equipa liderada pelo Sven Quandt, que conhece o caminho para o sucesso, e um chefe de carro, o Filipe Ferrão, que já ajudou três pilotos a vencer o Dakar.”
Além disso, o leiriense destaca o papel dos combustíveis 100% renováveis da Repsol, que contribuíram para os seus mais recentes títulos e que o acompanham nesta aventura, sublinhando o compromisso com a sustentabilidade mesmo nas provas mais exigentes.
A edição de 2025 do Dakar conta com 12 etapas e um percurso de 7.753 quilómetros, dos quais 5.145 são competitivos. Ferreira sabe que a exigência será máxima: “As etapas no deserto são desafiantes, mas a nossa estratégia será gerir bem o esforço, evitar erros e estar sempre focado no objetivo final.”
Apesar de reconhecer que vencer a categoria Ultimate ainda é um sonho distante, Ferreira está determinado a usar esta experiência como trampolim para uma carreira internacional no Campeonato do Mundo. “O Dakar é a montra perfeita. Se conseguir um bom desempenho aqui, pode abrir-me muitas portas.”
O prólogo de 29 quilómetros arranca já amanhã, mas João Ferreira leva consigo mais do que ambição: leva o peso de uma história em construção, a vontade de colocar Portugal no mapa da elite do automobilismo mundial, e a força de quem acredita que o deserto não é um obstáculo, mas sim um palco onde os sonhos podem ganhar vida.