Quando tudo parecia já escrito, João Ferreira encontrou mais um parágrafo por inventar. Na estreia com a Toyota GR Hilux T1+ EVO, o piloto português venceu a Baja Aragón, uma das mais lendárias provas do calendário mundial de todo-o-terreno — e fê-lo ao sprint, ao segundo, à centésima.
Do outro lado estava Nasser Al-Attiyah, múltiplo campeão do mundo. Pela frente, o traçado duro de uma Espanha escaldante. Mas o coração, esse, vinha de Leiria — e levava consigo a mesma teimosia com que sempre se sobe a Serra de Aire: sem medo, com força, e até ao fim.
“Foi uma corrida extraordinária, uma verdadeira batalha do primeiro ao último quilómetro”, contou João Ferreira, ainda com a poeira no fato e a emoção nos olhos. “Sabíamos que seria difícil bater o Nasser, mas nunca deixámos de acreditar.”
A diferença? Dois segundos. Nada mais. Nada menos. A margem mais curta de sempre na história da Baja Aragón. Um triunfo decidido à lupa, que começou a desenhar-se no prólogo de sexta-feira — ganho por Ferreira — e que quase se perdeu no furo madrugador de sábado.
Mas a leitura estratégica da última especial, a gestão cronométrica milimétrica, a entrega sem reservas de quem ainda se está a adaptar ao carro e à equipa… tudo isso contou. Tudo isso pesou.
“Fico muito feliz com este resultado, numa altura em que ainda nos estamos a adaptar ao carro e a toda a novidade que é esta fantástica Toyota”, partilhou o piloto da Toyota Gazoo Racing South Africa e SVR.
Depois de Carlos Sousa. Depois de Filipe Campos. Agora, é João Ferreira — o rapaz de Leiria que se fez piloto do mundo — a inscrever o nome entre os portugueses que triunfaram em Aragón.
Mas há algo mais do que a vitória. Há o que ela representa: a chegada definitiva de um talento que já não é promessa. É confirmação. É realidade.
E, sobretudo, é um aviso. Para o mundo. E para o futuro.