Levar a correr quem não pode numa joelette

Um dia, há longos anos, estavam elementos do Núcleo de Espeleologia de Leiria (NEL) a folhear uma revista quando se depararam com um artigo que lhes sorveu toda a atenção.

Relatava que um grupo de amigos preparava a mítica Maratona das Areias, prova com mais de 300 quilómetros em autossuficiência em pleno deserto do Sahara, quando um deles se lesionou com gravidade. Como amigo que é amigo não deixa amigo para trás, resolveram fazer a distância, mas levando o comparsa numa cadeira adaptada.

“Espera aí! Temos de ver o que é isto”, terá dito então o grupo de Leiria, entusiasmado com a possibilidade de o clube poder ter a mais-valia de transportar pessoas com mobilidade reduzida.

Foi assim que tomou conhecimento da denominada joelette que, desde então, tem proporcionado momentos únicos a várias pessoas e com deficiências diversas. “A ideia era precisamente essa: a participação em provas de alguém que, em condições normais, não poderia estar presente”, sublinha Luís Subtil Barreiro, do NEL.

Meias maratonas, maratonas, trails, o grupo até já se meteu a caminho de Fátima desde Lisboa para fazer feliz a dona Fernanda. “Disse-nos que gostava muito, mas que já não podia. Perguntou-nos se fazíamos o percurso com ela. Não era cedo, nem era tarde. Dissemos logo que sim.”

De volta às provas, fazem “questão” que a participação da cadeira seja feita no trajeto regulamentar. “Somos pouco adeptos de um percurso para os ditos normais e outro para as joelettes. Se é uma maratona, é para fazer a maratona. Já fizemos percursos duríssimos de orientação, por exemplo, e quisemos que fosse o tripulante a marcar os pontos, não fomos nós”, explica o responsável.

“Têm de ser eles a usufruir, não nós”, continua o dirigente. “Vão numa cadeira, às vezes em situações difíceis, mas confiam e nós tentamos proporcionar-lhes conforto.” Um conforto de alma que o grupo de voluntários também sente sempre que ajuda mais alguém a concretizar este sonho. Foi o que aconteceu, uma vez mais, este sábado, dia 29 de janeiro, na Corrida do Adepto, em Leiria, com o Carlos.

Luís Subtil é testemunha dos bons momentos vividos. Por todos. “Já ouvi miúdos dizer que foi o dia mais feliz da sua vida e isso para nós, que felizmente estamos bem, é muito gratificante. São estes comentários que nos dão entusiasmo, porque eu não vou fazer 10 quilómetros a correr, que não me dá qualquer satisfação, mas se for com uma joelette estou lá com todo o gosto.”

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