A doçura com que se olham não deixa espaço à imaginação. É muito mais do que amizade, o que une estas duas meninas que escrevem todos os dias as mais belas páginas do atletismo de Leiria. É mesmo assim: a mais nova acaba de chegar do Europeu de sub-20, a mais velha estreia-se este domingo nos sextos Mundiais absolutos da carreira.
Têm 14 anos de diferença, é bem verdade, mas têm uma ligação que perdurará. A história começou há 17 anos, quando Márcia nasceu. Irmã de Mafuta Maketa, a “melhor amiga” de Irina Rodrigues no atletismo e uma talentosa lançadora de martelo, ficou logo com o destino traçado.
“A Mafuta disse-me que ia ter uma irmã e perguntou-me se queria ser madrinha. Obviamente, disse que sim. Fez todo o sentido para mim, pois estávamos a criar uma ligação para o resto da vida”, explica Irina Rodrigues.
A miúda “só podia” dar atleta. No início fazia martelo, como a mana, e disco, como a madrinha, as suas “grandes inspirações”. Depois, a vocação falou mais alto e acabou por dar prioridade ao martelo, disciplina em que se tornou numa grande esperança lusa. Tanto, que já se transferiu da Juventude Vidigalense, onde foi formada, para o Sporting.
“A Márcia começou a fazer atletismo com 13 anos, a idade com que eu também comecei, e quis sempre manter esta proximidade. O facto de estarmos ambas neste desporto fez com que a nossa ligação entre afilhada e madrinha permanecesse mais viva, porque tínhamos algum em comum”, prossegue a atleta olímpica em três ocasiões.
Cada vez mais, madrinha e afilhada entendem-se com uma simples troca de olhares. Márcia admira a “energia, a dedicação e o companheirismo”. Irina, babada, vibra com a personalidade e os feitos da mais nova, a quem augura um futuro risonho.
“Tem um potencial enorme. Vejo com esperança e alegria, porque sei se ele quiser trabalhar pode ir a palcos tão grandes como aqueles a que fui, como os Jogos Olímpicos. Só tem de se aguentar a treinar bem durante mais uns anos.”
Mais importante do que o talento é o caráter. “A Márcia inspira-me imenso”, admite Irina. “É muito boa pessoa e tem uma personalidade extrovertida, como a minha. Quando entra num lugar brilha e faz amigos com facilidade. O facto de ser tão empoderada e estar muito bem com o seu corpo faz-me sentir orgulhosa, porque eu, com a idade dela, não era assim.”
Ora, Irina Rodrigues vai estar nos Mundiais de atletismo “feliz”. Num ano que ficou marcado pela conclusão do curso de Medicina, esta qualificação é, em definitivo, a cereja no topo do bolo. “Vai ser muito divertido. Independentemente do resultado, sei que vou sair feliz do Mundial, porque a nossa medalha de ouro foi conseguir terminar o curso. Um feito que o meu treinador, Júlio Cirino, pela capacidade de querer o meu bem ambicionou tanto quanto eu. Nunca descurámos o atletismo, mas queríamos tirar este peso de cima.”
A qualificação de lançamento do disco está marcada para as 8 horas portuguesas deste domingo. A acompanhar pela televisão, a puxar pela amiga e confidente, estará Márcia Maketa. “A Irina é uma mulher com muita atitude e força de vontade. Deve ter sido difícil e muito cansativo conciliar a universidade com o atletismo. Teve de passar noites sem dormir e ir treinar logo de manhã. Foi incrível, mas agora merece ser feliz.”