Manual pioneiro criado em Leiria leva desportos de disco ao 1.º ciclo e jardins de infância

A Federação Mundial de Desportos de Disco (WFDF, na sigla em inglês) acaba de lançar um manual inovador que promete revolucionar a forma como crianças de todo o mundo aprendem e praticam desportos. Intitulado “Introdução aos Desportos de Disco nas Escolas”, o guia foi desenvolvido para professores do 1.º ciclo e educadores de infância e já está disponível em formato digital, incluindo para escolas portuguesas.

De autoria de José Amoroso, professor do Politécnico de Leiria e presidente da Comissão do Desporto Universitário e Escolar da WFDF, o manual pretende democratizar a prática dos desportos de disco a nível global. Originalmente escrito em inglês, o documento poderá ser traduzido para as línguas locais, garantindo maior acessibilidade.

“O objetivo é introduzir os desportos de disco de forma inclusiva, lúdica e educativa, oferecendo às crianças ferramentas para o seu desenvolvimento motor e social desde a infância”, explicou José Amoroso.

O manual abrange todas as disciplinas associadas aos desportos de disco, descreve os diferentes equipamentos necessários e apresenta instruções para ensinar competências básicas através de 30 atividades práticas adaptadas ao contexto educativo.

Baseado em recursos anteriores, como o ‘Manual de Ultimate e Desportos de Disco nas Escolas’, também criado pelo docente de Leiria e publicado em 2019, esta nova obra é mais abrangente e focada em alcançar professores e educadores em todo o mundo. Desde o lançamento do primeiro manual, os conteúdos já foram traduzidos para inglês, croata e chinês, refletindo a crescente adesão global à modalidade.

Para crianças em idade pré-escolar, o foco recai sobre atividades motoras básicas, como lançar e apanhar o disco, com destaque para o lado lúdico da prática. Nos anos seguintes, as atividades evoluem, incorporando competências como a orientação espacial, a coordenação motora e até valores éticos.

“Estes desportos ensinam mais do que habilidades físicas. A autoarbitragem, fundamental no Ultimate, incentiva as crianças a refletirem sobre as suas ações e o impacto nos outros. Isso melhora a comunicação numa era em que as pessoas comunicam cada vez menos”, sublinha Amoroso.

Além das vantagens motoras – como velocidade, resistência, força e flexibilidade –, os desportos de disco promovem a coordenação óculo-manual, equilíbrio e orientação espaciotemporal. Segundo o docente, estas competências são essenciais, especialmente numa época em que muitos alunos chegam aos cursos de Desporto com lacunas significativas na motricidade básica.

“Introduzir estas práticas desde cedo é uma forma de combater essas deficiências e, ao mesmo tempo, transmitir valores como o respeito, o espírito de equipa e a autorregulação”, destacou Amoroso, que também presidiu à Associação Portuguesa de Ultimate e Desportos de Disco (APUDD).

A APUDD está atualmente a identificar escolas e clubes em Portugal onde o manual poderá ser implementado. Em Leiria, já foi sinalizada uma escola piloto que poderá servir de exemplo para a expansão nacional do projeto.

Segundo Robert ‘Nob’ Rauch, presidente da WFDF, “a missão da Federação Mundial de Desportos de Disco é apoiar e promover o crescimento inclusivo e o desenvolvimento de todos os desportos de disco e do espírito de jogo. Este manual fornece as ferramentas necessárias para que educadores possam inspirar as crianças a fazer parte desta missão.”

Com indicações de que o Governo português poderá aumentar a carga horária dedicada à educação física no 1.º ciclo, José Amoroso vê esta iniciativa como uma oportunidade única de dar destaque aos desportos de disco no contexto escolar, ele que tomou contacto com a modalidade em 2000, quando estava em Erasmus, na Bélgica.

Desde então tem pugnado por levá-la a todos os cantos. “Chamou-me a atenção por causa da beleza do ver os efeitos do disco a sair e a voltar ao campo”, explica o também fundador do LFO – Leiria Flying Objects. “Depois, quanto mais nos envolvemos, mais nos vamos apercebendo da riqueza ética que tem.”

Foi precisamente sobre o fair-play na modalidade que apresentou as teses de mestrado e doutoramento.