Tudo pode acontecer no Dakar. Uma frase que, à primeira vista, pode soar comum, mas que foi mais do que confirmada por Ricardo Porém e Nuno Sousa na edição de 2025. Conduzir um SSV sem volante? Não é exatamente o que se espera de um piloto no meio do deserto. No entanto, foi essa a experiência improvável que a dupla de Leiria viveu na etapa 8 da competição, um episódio que, para além de surreal, se transformou numa história épica de engenho, resiliência e, claro, boa disposição.
Tudo começou no quilómetro 394 da especial, quando a coluna de direção do MMP de Ricardo Porém e partiu. “Estávamos no meio do deserto, rodeados de pedras, sem volante e sem saber o que fazer. A situação não podia ser pior”, explicou Ricardo, cuja única companhia, o seu amigo de infância e navegador estreante Nuno Gouveia de Sousa, não teve dúvidas: não podiam desistir.
“Já tínhamos passado uma noite inteira ao frio na etapa 6 e o deserto estava a ganhar por 1-0. Não íamos deixar que isso se repetisse, por isso disse ao Ricardo que íamos arranjar uma solução, fazer o 1-1”, conta Nuno. E foi precisamente isso que fizeram. A solução? Criatividade e muito engenho. Usaram um braço de suspensão sobresselente para improvisar uma coluna de direção e, com um cabo de chave de caixa, conseguiram arranjar uma forma para que Ricardo pudesse conduzir, mesmo sem volante.
Claro que a configuração não era a ideal. Durante os 35 quilómetros seguintes, a dupla percorreu o terreno a uma velocidade que podia ser considerada mais uma caminhada acelerada, demorando mais de duas horas para os percorrer. “Havia momentos em que tínhamos de sair do carro para rodar as rodas manualmente, mas o importante era não desistir”, explicou Ricardo. A missão? Chegar à secção de estrada e esperar pela equipa de apoio.
O momento bizarro foi captado por Nuno, que não quis perder a oportunidade de documentar a proeza. O vídeo, publicado na sua conta de Instagram, tornou-se rapidamente viral, acumulando quase um milhão de visualizações em apenas 24 horas. O sucesso foi estrondoso, mas o que veio a seguir foi ainda mais surpreendente: a dupla foi premiada com o Dakar Spirit Award no pódio do acampamento em Haradh.
“Foi um final feliz à portuguesa”, brincou Ricardo Porém. “Não conseguimos chegar ao topo da classificação, mas a experiência, as risadas e o prémio valem muito mais. E claro, aprendemos a lição: nunca subestimem a criatividade de um navegador determinado.”
Que venha o Dakar 2026. Com volante, de preferência!