Não tem mais de 21 anos, é simpático, cara de bom rapaz e parece incapaz de fazer mal a uma mosca, mas quando o assunto é trail, bom, saiam da frente. Não é, contudo, essa a opinião de quem com ele se cruzou nos trilhos deste país.
Não é preciso ir mais longe: que o digam os adversários que o tiveram pela frente no recente Leiria Run, prova que conquistou.
É que quando chega a hora de mostrar rapidez, leveza e análise rápida do percurso, poucos há que o consigam bater.
Tanto que se afigura, cada vez mais, como uma daquelas promessas que até já é uma verdadeira certezas da modalidade em Portugal. Mas já lá vamos.
Conhecendo um pouco a história de Tomás Estevães é fácil perceber que só podia ter nascido e crescido em Leiria, tantos são os sinais idiossioncráticos presentes.
Jogou, como é óbvio, andebol, e praticou, naturalmente, natação. Depois de uns tempos afastado da atividade física, aos 15 anos começou a correr, lá está, nas Brisas do Lis Night Run. Não tínhamos razão?
Seis meses depois dessa primeira corrida de quarta-feira à noite participou no primeiro trail “sem nunca sequer ter treinado em trilhos”. E foi “difícil”. “Não estava habituado a lidar” com tanto “esforço”, tantas “subidas” e tanto “calor”.
No entanto, o “bichinho ficou”. Mesmo. “A beleza e a diversidade dos percursos fizeram com que começasse a gostar mais de correr em trilho do que na cidade”, já que concede momentos de introspeção, mas também o contacto com a “diversidade” e os momentos de “exploração” que só a “natureza permite”.
Ter quatro desses spots de eleição à porta de casa fez o entusiasmo crescer.
“As serras da Maúnça e da Senhora do Monte são locais simplesmente fantásticos para correr. Já percorri vários trilhos em Portugal, Espanha e Itália, e estes dois continuam a ser dos meus favoritos, com uma qualidade enorme. Também há locais como a mata da Curvachia ou do Vale do Lapedo que apresentam trilhos bastante divertidos.”
Umas vezes, por esses montes e vales, este estudante de Desporto sente-se em “paz”. Noutras, sente picos de “adrenalina”. Noutras ainda, existe uma total “ausência de sentimentos”.
“É o desligar por completo de tudo o que nos rodeia e, durante esse tempo, nada mais acontece para além do correr nos trilhos”, explica Tomás Estevães.
É verdade, o menino da cidade encontrou na serra a paz e um melhor conhecimento interior, mas também trilhou o caminho do sucesso.
Nestes seis anos de corridas marcados por uma evolução estonteante, os três momentos de que mais gosta é a primeira vitória, nos 15 km dos Trilhos Loucos da Reixida, em 2019, a participação nos Campeonatos do Mundo de Jovens de SkyRunning, em 2021, em Itália, e a vitória em casa, no Leiria Run deste mês.
“Foi lá que tudo começou, em 2016, e tem um sabor especial.” Já agora, na altura foi 165.º classificado.
Sem querer fazer planos a longo prazo, espera repetir este ano a seleção para os Campeonatos do Mundo de Jovens de SkyRunning e, se possível, melhorar o 15.º lugar do ano passado. Também acha possível levar Portugal ao pódio coletivo
Para continuar a ter mais e mais sucesso necessita de ser “humilde” e “manter sempre os pés no chão”.
“Podemos sonhar sempre, mas temos de saber como é a realidade. E se estivermos descontentes com a realidade, então temos de trabalhar, porque apenas a nós cabe mudar isso. Acredito que sou capaz de muito mais, mas também sei que depende da minha vontade.”