Wasteland Skateparks: de hobby a empresa, de Leiria para o mundo

De Barcelona a Alqueidão da Serra, de Saragoça a Vila Praia de Âncora, de Kalmar a Lisboa, de Olhão à Venda do Pinheiro, há uma empresa de Leiria a construir skateparks de betão um pouco por todo o lado.

Contudo, para contar a história da Wasteland Skateparks temos de regressar a 1991, quando um grupo de skaters americanos veio fazer uma demonstração ao pavilhão gimnodesportivo de Leiria, mas não havia rampas.

João Sales integrou o grupo que à última hora, e com a ajuda da Câmara, as construiu. “Ficámos entusiasmados por ver profissionais a andar em rampas feitas por nós”, recorda.

Com a excitação do momento, consolidada pela posterior chegada à cidade de Steve Carreira, que logo abriu a skateshop Tribos Urbanas, desataram a fazer mais e mais, inclusive em cimento.

Começaram com um separador de auto-estrada, nos Pousos, até que descobriram um cerâmica abandonada, onde hoje é a Urbanização de Santa Clara, e resolveram ocupá-la.

Aproveitaram a areia e os tijolos que por lá estavam espalhados e “acartavam baldes de cimento”. Começaram lentamente a perceber como funcionava, a conhecer os truques dos ângulos e foram acumulando novas rampas.

Entretanto, João Sales, que era o artífice principal, perdeu o emprego, mas, coincidência das coincidências, recebeu uma chamada de “um amigo” que conhecia o trabalho que tinha feito na cerâmica e que o convidou para fazer uma rampa bowl, em Lisboa.

Arriscou. “À aventura, fui eu e o Nuno Cainço construir aquilo.” Correu bem, tanto que depois surgiu uma, e outra, e outra, até que, em 2014, constituiu a Wasteland Skateparks, empresa que tem hoje “dezenas” de trabalhos concluídos em Portugal, Espanha e Suécia.

Curiosamente, apesar de haver outros projetos em equação, no concelho de Leiria construiu apenas um “pequeno e divertido”, nas Figueiras, a 5 minutos da cidade, um dos primeiros que fizeram.

“Começámos porque não gostávamos daquilo que havia em Portugal. Já tínhamos viajado e sentíamos que no País Basco, por exemplo, havia muito skateparks com características diferentes e muito próximos uns dos outros, o que permitia criar um sentimento de comunidade.”

Por isso, procuraram uma linha “mais fluída”. “É sempre importante falar com as comunidades locais para perceber o que eles preferem. Depois, adaptamos ao que pretendem, para cuidarem deles e sentirem que lhes pertence.”

Também é importante os skateparks terem “boa acessibilidade, lugares sentados, iluminação, bebedouros e caixotes do lixo”. “Os que não têm começam a criar mau ambiente e deixa os miúdos meio amedrontados”, explica.

E pronto, foi assim que um hobby apaixonante tornou-se numa oportunidade de negócio e, acredita João Sales, os fundamentos do skate foram decisivos para sair daquele momento de dificuldade.

“Quem começa a andar vê o mundo de outra forma. Os bancos e as escadas são obstáculos para ultrapassar e levamos isso para a vida. É necessário ser resiliente e não desistir à primeira. Falhamos, pensamos como podemos melhorar e o que é preciso para nos superarmos.”

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