Faltava pouco mais de um minuto para terminar o prolongamento quanto Rute Martins marcou um golo. “Atabalhoado”, é bem verdade, mas tão decisivo quanto histórico. Já dentro da área, a jogadora do Centro Popular e Recreativo da Pocariça rodou, rematou, e a bola saiu enrolada, mas ainda assim entrou, devagar, na baliza.
A “roscazita” é, ainda assim, motivo de regozijo na aldeia da freguesia da Maceira, pois permitiu o triunfo sobre o Juventus de Triana (4-5), no passado sábado, em Gondomar, e colocou, pela primeira vez, o popular clube nos quartos-de-final da Taça de Portugal de futsal feminino. Agora, terá pela frente o gigante Sporting, num jogo marcado para as 12 horas de dia 25 de fevereiro, no Pavilhão João Rocha, em Lisboa.
A alegria tomou conta da marcadora de serviço. Não só porque o golo que marcou foi decisivo nesta conquista coletiva que coloca o grupo de trabalho em patamares “difíceis de imaginar”, mas também porque ela é muito mais do que a simples marcadora de um golo especial.
Além de jogar há 20 anos com aquela camisola e aquele símbolo, importados em 1958 por um emigrante que se inspirou na Portuguesa dos Desportos, do Rio de Janeiro, Rute Martins é também capitã de equipa “há muitos anos” e, acima de tudo, presidente desde 2020, convencida numa paródia à mesa do bar. “Olha, tu é que eras boa!”
Com “muita gente a dizer a mesma coisa”, acabou por embarcar. Em tempo de Covid, “a primeira coisa” que fez quando assumiu foi “fechar o clube”.
Mas a ligação é intensa e faz-lhe ferver o sangue. Em 1989, a mãe e a tia foram jogadoras da primeira equipa de futebol feminino do Centro Popular e Recreativo da Pocariça e o avô foi um dos fundadores e também presidente.
O pai também jogou futebol, de resto, como o irmão. Não havia forma de escapar aos encantos do desporto-rei. “Desde pequena só queria jogar à bola”, conta a atleta, designer de profissão, para que o clube é muito mais do que um passatempo. Além de atleta, capitã e presidente, é ainda a responsável pela comunicação e tem em mão só processo de certificação – o clube já tem 40 miúdos entre petizes, traquinas, benjamins e infantis. “Ocupa muito tempo”, não haja dívidas, mas como quem corre por gosto não cansa…
Mas vamos ao Sporting. As campeãs distritais de 2021/22, que ainda tentam garantir um lugar na Taça Nacional desta época, ainda só perderam um jogo esta época, mas já não dependem de si para revalidarem o título. Vão ainda disputar a final da Taça Distrital, competição que não ganham há 29 anos, mas a cereja no topo do bolo é mesmo o encontro com o o gigante de Alvalade.
“Chegar aos quartos-de-final era impensável. O nosso objetivo era chegar à terceira eliminatória, mas fomos sempre acreditando e vamos já para a sexta. A realidade do Sporting é completamente diferente, por isso estamos contentes por poder defrontá-las. Há uma motivação adicional, queremos usufruir e mostrar que, mesmo sendo dos distritais, temos valor.”
Para o treinador, Isac Costa, este é um prémio justo para estas “guerreiras” que treinam duas vezes por semana e “pagam para jogar futsal”. “O clube dá-lhes roupa lavada, um sítio para treinar e comida. O resto, são elas que sustentam.”
O Sporting é uma equipa de um patamar diferente, mas nada que intimide o grupo. “Queremos usufruir, mas também mostrar o que sabemos fazer. Temos qualidade e trabalhamos bem.”
15 de Fevereiro de 2023
Pavilhão "A Portuguesa"