Nuno Cordeiro cortava a meta no terceiro lugar da prova de 800 metros do Festival Olímpico da Juventude Europeia (FOJE) e o treinador, João Bernardo, saltava de alegria, após dois minutos agarrado ao monitor do computador em absoluto sofrimento, a três mil quilómetros de distância, na cidade de Leiria.
Se, à partida do pupilo para a Eslováquia, lhe tivessem dito que o rapaz de 15 anos viria de lá com uma medalha, a verdade é que provavelmente não acreditaria.
Quem confiou sempre foi mesmo o atleta da Juventude Vidigalense que, chegado a Banská Bystrica, demonstrou estar imperturbável. E não é disso que (também) se fazem os campeões?
“Quando lhe mostrei uma imagem das medalhas disse-me que ia trazer uma dessas. Pensei que não lhe ia cortar as pernas, mas também não lhe ia dar moral. Disse para se preocupar em chegar à final, o que nem sequer era expectável”, conta João Bernardo.
Pois bem, Nuno Cordeiro começou por ganhar a eliminatória. “Estás a ver? Não te preocupes”, disse então ao técnico.
Na apresentação da final voltou a mostrar confiança (e atitude), inclusive com beijinhos para a televisão. Depois, foi correr, muito, especialmente num sprint final onde ultrapassou dois adversários, até garantir o bronze.
Agora, João Bernardo deve-lhe um jantar. Quando vierem das férias, vão os dois comer algo espetacular ao João Gordo.
Por esta medalha, sim, mas por tudo o que este rapaz cresceu desde a pandemia. Só esta época venceu o Km Jovem Nacional e foi vice-campeão nacional de juvenis em pista coberta e terceiro ao ar livre nos 800 metros.
Curiosamente, Nuno Cordeiro está no clube de Leiria desde muito novo, fez todo o percurso com as cores da Juventude Vidigalense, mas, “franzino”, não se destacou por aí além.
Há três anos integrou então a escola de meio-fundo, começou a crescer – tem 1,84 metros – e foi começando a mostrar qualidades.
Tendo um “contexto familiar incrível” e uma “enorme capacidade de trabalho”, “muito comprometido, mas descontraído”, as pontas foram-se unindo para nascer um grande atleta em potência.
“O Nuno treinou todos os dias durante a pandemia. Esta medalha prova que valeu a pena trabalhar quando muitos outros estavam no sofá.”
Novas áreas de afirmação
Ora, este resultado marca, também, uma nova fase no trabalho de formação no clube de Leiria, cujo sucesso se centrava mais nos lançamentos e nos saltos horizontais.
De qualquer forma, garante João Bernardo, a nova geração “inspira-se muito” nas referências que projetaram Leiria para a elite do atletismo mundial: os olímpicos Paulo Reis e Cátia Ferreira.
A prova do bom trabalho é que a Juventude Vidigalense se sagrou este ano campeão nacional de juvenis e levou três atletas a grandes competições internacionais do escalão em áreas bastante díspares.
“Os treinadores vão tentando fazer coisas diferentes e mudar contextos para que mais talentos surjam noutras áreas”, afirma o responsável.
“É uma geração muito forte e muito trabalhadora e a medalha do Nuno Cordeiro é só mais um resultado que vinca a qualidade dos técnicos da Juventude Vidigalense.”
Ricardo Carreira
2 Agosto, 2022 @ at 21:26Confirmo que sempre trabalhou na pandemia e eu próprio o acompanhei, mas confesso que já não tenho qualquer hipótese. O meu sobrinho é de facto um exemplo de jovem determinado, objetivo, trabalhador por isso este feito é bem merecido. É apenas o início…
Susel Carreira
2 Agosto, 2022 @ at 22:22Obrigada a família Juventude Vidigalense que além do atletismo dinamiza o desporto em Leiria, aos seus técnicos que além das competências técnicas são todos uma simpatia e em especial ao João Bernardo, pelo acompanhamento e pelas palavras.