Elo disruptivo entre desporto e saúde colocam Politécnico de Leiria na vanguarda

Em Leiria, somos arrojados. Na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS), por exemplo, a formação na área do Desporto há muito que seguiu uma rota própria, bastante audaz. Não há lugar a imitações. A prioridade não é lecionar os cursos que os outros têm, mas resolver as reais necessidades daqueles que precisam da formação.

E a primeira ideia disruptiva surgiu há muito, no início do milénio, quando a licenciatura de base se passou a chamar Desporto e Bem-Estar, numa associação, então menos óbvia, entre desporto e saúde. Foi esse curso, de resto, o embrião que ofereceu aos docentes uma visão estratégica e alargada na criação de formações com uma forte componente de inovação.

“Sempre tivemos uma preocupação extrema em conseguir perceber áreas deficitárias, onde as pessoas precisassem mesmo de conhecimento”, explica Pedro Morouço, diretor daquela escola integrante do Politécnico de Leiria.

Não temos problemas em copiar o que é bem feito pelos outros, mas para nós é mais interessante compreender o que pode ser distintivo e abrir horizontes

Por estarem “atentos”, identificaram uma área com carência, sem qualquer outra formação a nível nacional, relacionada com necessidade de criação de uma sinergia plena entre as áreas da saúde e do exercício. E assim nasceu, em 2019, o mestrado em Prescrição do Exercício e Promoção da Saúde.

Na primeira edição entraram licenciados em Desporto e um só fisioterapeuta, mas logo no ano seguinte inscreveram-se vários fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e da área da psicomotricidade.

“Este ano, até uma médica está a realizar o mestrado”, sublinha Pedro Morouço. O mais importante, realça o responsável, é a utilidade do curso. “Vai ao encontro das necessidades da própria tutela, que diz que é preciso maior aproximação à atividade física para prevenção da doença”, explica.

“Tem tido uma aplicabilidade tremenda, com o lançamento, muito recente, de um programa de atividade física para os pacientes da Medicina Interna. Estamos também a avançar com ideias para homens sobreviventes de cancro da próstata. Isto, numa instituição pública da dimensão do Centro Hospitalar de Leiria.”

As bases surgiram, contudo, numa instituição mais pequena, a Unidade de Saúde Familiar Santiago, nos Marrazes, onde desde 16 de abril de 2019 decorrem consultas de atividade física para pessoas com diabetes ou depressão. “Fomos nós os primeiros. A primeira consulta nesta área do Serviço Nacional de Saúde será sempre em Leiria”, enfatiza Pedro Morouço, que na altura estava no terreno e deu essas mesmas consultas, acompanhado pelo médico Bruno Carreira, como a foto documenta.

Encontrámos uma área do conhecimento bastante deficitária. Cada vez mais, o desporto para a pessoa com deficiência – até na vertente competitiva – está a ganhar uma escala enorme

É um assunto que está “na ordem do dia”, tanto que os docentes têm sido chamados a dar a conhecer o mestrado tanto dentro quanto fora do país, pois os atuais contextos económicos e financeiros aprofundam a necessidade de as questões da saúde serem tratadas de forma preventiva. “É mais fácil não deixar a doença aparecer do que depois ter de investir no tratamento”, afirma o responsável, doutor em Ciências do Desporto.

Cereja no topo do bolo

Sempre com o “radar aberto”, atentos às necessidades, a ESECS avançou para algo sem paralelo no país, uma pós-graduação em Desporto e Atividade Física Adaptados. É a “cereja no topo do bolo”, que levou, inclusive, o próprio o Comité Paralímpico de Portugal a assinar um protocolo de cooperação com o Politécnico de Leiria.

“Encontrámos uma área do conhecimento bastante deficitária. Cada vez mais, o desporto para a pessoa com deficiência – até na vertente competitiva – está a ganhar uma escala enorme, mas também a preocupação que tem de haver com o cidadão comum portador de deficiência, que deve ter acesso ao exercício e à atividade física.”

É um pós-graduação “única no país” e uma “aposta clara da direção” da escola. “Não é daquelas em que queremos ter um grupo enorme de estudantes. Bem pelo contrário, sabemos, pela sua especificidade, por ser uma formação muito prática de um ano, que é importante haver uma relação próxima com os professores.”

O caminho da ESECS está trilhado. “Não temos problemas em copiar o que é bem feito pelos outros, mas para nós é mais interessante compreender o que pode ser distintivo e abrir horizontes. A multiplicidade de experiências que existe neste grupo de professores faz com que essa visão seja comum. A relação próxima que temos com os clubes e as associações reforça esta vontade de fazer diferente, mas sempre em rede.”

Foto: Ricardo Graça/Jornal de Leiria

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