Estamos naquele período do ano em que, aqui ao lado, na Nazaré, as ondas grandes podem chegar a qualquer momento, fazendo surfistas, jornalistas, fotógrafos e videógrafos dos quatro cantos do mundo viajar a todo o gás para a região.
Este surf extremo, um fenómeno global que faz manchetes em todo o planeta de outubro a março, tem associado um leiriense. Chama-se Luís Nascimento e é o fisioterapeuta de alguns dos intrépidos homens e mulheres que tratam o risco por tu na demanda por um novo recorde.
Garrett McNamara, Maya Gabeira, Sebastian Steudner ou Andrew Cotton não têm problemas em pegar no carro e fazer um pouco mais de 30 km para serem observados e tratados pelas suas mãos.
E ele, que também é o fisioterapeuta campeão mundial pela seleção nacional de futebol de praia, teve o primeiro contacto com este mundo logo no início da demanda pelas ondas grandes na Nazaré, em 2012, proporcionado pelo seus contactos com o futebol de praia da Nazaré.
“O presidente da Câmara pediu-me para ver um atleta. Não sabia que havia surf de ondas grandes, muito menos quem era o Garrett MacNamara. Para mim, era um atleta qualquer que estava ali.”
Na altura, o mediatismo era nulo. Depois foi crescendo, até que deu “um salto gigante”. No entanto, este espetáculo admirado por tantos é “muito violento” para o corpo destes super-atletas.
“É o próprio McNamara que diz que nos outro locais faz a onda e depois acalma. Na Nazaré, continuam num turbilhão como se de uma máquina de lavar roupa se tratasse que lhes dá muita pancada e os afunda. É principalmente por isso que é tão perigoso.”
É por isso que chegam tantas vezes com lesões traumáticas: fraturas de membros, fraturas da coluna lombar, fraturas da fíbula, fraturas do pé. “Também têm muitas queixas lombares, coisas menos graves, mas que merecem muita atenção.”
É que estes aventureiros “dependem do corpo” e por isso têm “muito cuidado com o treino, com a alimentação e com o sono”. “É o trabalho deles e se não estiverem bem não vão conseguir fazer as ondas. Têm de fazer uma grande preparação. Têm treino físico específico e o fato deles não é um fato normal, é um fato que insufla. Não só para os proteger do impacto, mas também para virem à tona quando ficam debaixo de água.”
Se o fato é “muito mais pesado e com muito menos mobilidade”, o surf de ondas grandes tem ainda a especificidade de as pranchas terem fixadores para os pés, o que pode levar a algumas fraturas no membro em caso de queda, sobretudo quando “a prancha vai para um lado e o corpo para o outro”.
Com Luís Nascimento trabalha a grande referência, Garrett McNamara, antigo recordista da maior onda surfada, o atual recordista, Sebastian Steudner, a recordista feminina, Maya Gabeira, e outro dos nomes incontornáveis, Andrew Cotton.
Apesar dos feitios diferentes, todos têm em comum o facto de quererem recuperar depressa e de só acederem à fisioterapeuta em último caso. “Do nada, ligam. Têm sempre pressa e tentamos encontrar uma vaga. É tudo no limite, só quando tem uma queixa ou um problema, até porque não têm tempo. A capacidade de superação à dor é tão grande que entram precocemente na atividade. Estão habituados a sofrer e têm o tempo limitado para surfar, treinar e andar de um país para o outro.”
Vão tendo fisioterapeutas que os seguem em cada ponto específico. “Depois, provavelmente por terem fixado fixado residência nesta zona, quando são processos de reabilitação mais longos ficam aqui.”