Os novos adeptos da União de Leiria: têm sotaque, levam a família ao estádio e só torcem pelo clube da terra

Todos os domingos, sempre que há jogo, lá estão eles e não há programa melhor para o pai Mário e para o filho Pedro Henrique fazerem em conjunto, de cachecol ao pescoço. A União de Leiria entrou-lhes no coração e agora não há forma de sair. Estão definitivamente conquistados.

Como qualquer brasileiro, Mário Lopes vive o futebol com intensidade. Enquanto miúdo, jogou horas sem fim na rua, com os amigos. Torcia pelo São Paulo para poder sonhar com títulos, mas era pelo clube da terra, o Goiás, que nutria um carinho especial.

Essa paixão do povo trouxe-a, inevitavelmente, quando se mudou para Portugal. E não teve dúvidas em abraçar o clube da cidade que também o acolheu de braços abertos. Depois, com o crescimento de Pedro Henrique, que também já joga, a ida ao estádio passou a ser uma rotina.

O miúdo, de 9 anos, fica “vidrado” com tudo o que se passa no campo. Tanto, que mal fala. Devora com sofreguidão tudo o que se passa dentro das quatro linhas. Mas quando o pai se entusiasma e diz uns palavrões mostra-lhe o cartão amarelo. “Pai, não podes falar isso!”

Pedro Henrique quer sempre chegar ao jogo com uma hora de antecedência para assistir ao aquecimento e não abdica de cumprimentar todos os jogadores quando o árbitro apita para o final da partida. Depois, quando vão para casa, criaram um ritual que deixa a mãe “brava”. “Ligamos a televisão, puxamos o jogo para trás e vamos ver os golos.”

São daqueles mesmo fiéis. “Sempre que podemos estamos lá. O Pedro é louco pelo Leiria, sobretudo pelo “Jordan e pelo Jair”, mas também gosta do Sporting. Se for um jogo entre os dois vai torcer pelo Leiria, mas vai ficar com pena do Sporting”, explica o progenitor, que também conseguiu incutir o entusiasmo na filha Emily, de 12 anos. Numa partida a que assistiu, ela até ganhou uma camisola de Diogo Leitão, um dos jogadores, com a qual “sempre dorme”. O irmão, esse, rói-se de inveja.

Mário Lopes só lamenta que essa preferência (ainda) não seja tendência em Portugal, excetuando casos pontuais, como o Vitória de Guimarães. Mas não devia ser sempre assim?

“Só faz sentido que assim seja. Temos de ser do clube da terra. Fico chateado quando vejo pessoas da cidade dizer que a União de Leiria vai morrer na praia, que não vai subir. Apetece dar umas porradas. É triste ver as pessoas não apoiarem e só criticarem. Ok, há os grandes, mas primeiro temos de ser do clube da terra.”

Uma postura que, garante, prevalece na crescente comunidade brasileira na cidade, que tem aderido com entusiasmo ao futebol praticado pelo emblema do castelo. “Os primeiros jogos, com a festa, chamaram muitos brasileiros. É engraçado vê-los com a camisola do clube de lá, mas a apoiar a União de Leiria. Passou a ser o clube deles.”

Mário Lopes também elogia o trabalho de comunicação feito nos últimos meses, que a médio prazo pode inverter a tendência reinante. “O Leiria faz muito bem em trabalhar com as crianças. Está a ir às escolas e é lindo ver o entusiasmo dos miúdos. Essas crianças serão adultas, vão pegar amor pelo clube e ser o futuro da União de Leiria.”

Mas agora, passada a primeira fase da época, é hora de a União de Leiria jogar (mais uma vez) pela subida à 2.ª Liga. Pedro e Mário acreditam que será desta. “Se subir vamos ficar muito felizes. Quem sabe se não conseguimos convidar um dos jogadores para lá ir a casa comer um churrasco? Seria o êxtase!”

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