É terça-feira à noite. Chove, o Benfica joga e não se vê vivalma na rua. Entramos na Casa do Povo de Monte Real, passamos pelo bar e acedemos ao salão. Encontramos vida! É lá que meia dúzia de indivíduos batem umas bolas em jeito de aquecimento para mais uma jornada do Campeonato Distrital de Equipas Seniores de ténis de mesa.
Entre os elementos do clube da casa e da Casa do Pessoal Cimentos do Liz destaca-se, naturalmente, uma senhora. É Tânia Pedrosa. De saia, unhas arranjadas, cabelo comprido, é a única mulher que vai a jogo. Não só na Casa do Povo de Monte Real, mas em toda esta competição da Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Leiria que junta mais de seis dezenas de mesatenistas.
“Estive parada desde 2006, por causa do trabalho como assistente dentária. Depois fui mãe e puseram-se outras coisas à frente”, explica Tânia Pedrosa, que começou a jogar aos 15 anos, “por brincadeira”, numas mesas que havia na escola de Vieira de Leiria e que “ainda lá estão”. “Gostava muito de bater na bola!”
Depois das taças conquistadas no Desporto Escolar, saltou para o clube da terra, então com uma relevância grande na modalidade. A jogadora ainda atingiu um “bom nível”. Recorda a vitória num torneio em Pinhel que lhe valeu uma moeda de 2,5 pesos mexicanos em ouro.
A equipa fantástica de Tânia Pedrosa
No ano passado, a Casa do Povo de Monte Real voltou a ter ténis de mesa. “Tinha muitas saudades e ia sempre apoiar.” Até que em setembro resolveu voltar. O marido apoiou “sem qualquer dúvida”. Os filhos, de 15 e 11 anos, também. Ambos jogam futebol, mas o mais novo “está com o bichinho da mãe” e também já começou a jogar.
Equipa espetacular
Tem sido um regresso à competição feliz. Não tanto pelos resultados, mas por voltar a fazer o que tanto gosta depois de 16 anos afastada da modalidade, devidamente enquadrada por um grupo “espetacular”. “Apoiam-me em tudo e estão sempre a puxar-me para cima. Sou uma sortuda”, admite Tânia Pedrosa.
Na verdade, os colegas de equipa são “amigos de longa data”, que estão, como ela, a “regressar este ano”.
“Ela costuma dizer que anda no ténis de mesa com os irmãos e o avô”, conta Francisco Santos, o mais experiente do grupo, que realça o facto de a equipa B da Casa do Povo de Monte Real não ter “pretensões competitivas”, mas promover o regresso à competição de antigos praticantes. “Somos seis e em cada jornada só podem jogar cinco. O que fazemos? Rodamos, não interessa se é o melhor ou o pior. O objetivo é jogarmos todos.”
Exemplo a seguir
Os adversários, esses, encaram com naturalidade, elegância e fair-play a presença de Tânia. Ainda assim, garante a jogadora, já sentiu alguns “chateados” por lhes estar a criar mais dificuldades do que esperavam.
Por enquanto, mais importante do que essas vitórias, é mesmo o convívio, a famosa “terceira parte”, a jantarada que nunca falha.
Mas o que Tânia Pedrosa queria mesmo era ter mais adversárias. “É verdade que a jogar com homens não sinto tanta pressão, mas queria ver mais mulheres a jogar.”
Está, de qualquer maneira, a dar o exemplo para que as coisas, paulatinamente, vão mudando. Uma antiga colega voltou a jogar ténis de mesa, mas noutro distrito, e na Casa do Povo de Monte Real já há três meninas nos escalões de formação. “E foi porque me viram a jogar!”
(8 de março de 2023)
Casa do Povo de Monte Real