A afluência dos jovens de Leiria ao kendo “é grande”. O gosto pela cultura japonesa, designadamente por manga e anime, faz com que esta ligação histórica aos samurais tenha vindo a ganhar peso.
O Ghost of Tsushima, um jogo de Playstation de 2021, também tem ajudado ao entusiasmo pela modalidade.
É uma ligação que não é nova, porque se há kendo em Leiria, muito se deve ao Budokan, um jogo para PC, lançado em 1989, em que o jogador participava numa série de combates em quatro artes marciais – karate, nunchaku, bo e kendo. Um verdadeiro vício para a malta.
“Andava à procura de alguma atividade para fazer em Coimbra, onde estudava, e vi um cartaz. Reconheci a modalidade, por causa do Budokan, experimentei e gostei”, diz Pedro Marques, o engenheiro informático que em 2009 trouxe a modalidade para Leiria.
Trata-se de uma arte marcial, mas diferente do judo, do karate e do kung-fu, acima de tudo porque se usa uma “espada”.
É, pois, uma adaptação das técnicas de luta com sabre dos samurai aos tempos modernos. Apesar de parecer uma modalidade perigosa, “não é”, assegura Pedro Marques.
Todo o equipamento de proteção, bogu (armadura para a proteção do praticante), shinai (espada feita de tiras de bambu), bokken (sabre de madeira), kote (luvas), tare (proteção das ancas) e do (proteção do abdómen) reduzem a zero o risco de acidentes.
Tal como na esgrima, um assalto de kendo consiste no confronto entre dois praticantes. O objetivo é a marcação de pontos, feita através de um correto uso da técnica de maneira a atingir o adversário num dos quatro pontos permitidos – a cabeça, o pescoço, os pulsos e o torso. Vence quem conseguir dois pontos.
Mas há um pormenor, muitíssimo importante, que diferencia o kendo dos outros desportos: todos lutam com todos. Não há escalões, nem por peso, nem por idade, nem por sexo.
“Todos têm as suas vantagens. Os mais pequenos são mais rápidos e ágeis, os mais altos conseguem golpes com um alcance maior, os mais velhos, mesmo os de 70 ou 80 anos, já não estão fisicamente no auge, mas superam isso com a experiência.”
Atualmente há duas dezenas e meia de praticantes em Leiria, divididos em duas turmas. Treinam no pavilhão da Escola José Saraiva, às segundas, quintas e sábados.
Uma das referências é precisamente Pedro Marques, um histórico da modalidade no país, com presenças em quatro Mundiais e sete Europeus, mas a presença de representantes do Fusoshin na seleção nacional tem sido uma constante.
Tiago Martins, de resto, representou Portugal no Europeu que se realizou em Frankfurt, em maio último.
Escola José Saraiva