Kitó Ferreira: “Tirando a bola, o pavilhão e serem cinco para cada lado, no Kuwait é tudo diferente”

As saudades apertam e muito. É essa a sina do emigrante. E todos os dias, todas as horas e todos os minutos, Kitó Ferreira pensa na família, tão longe em distância, mas tão perto do coração.

Porque foi por eles que aceitou viajar para o outro lado do mundo e treinar uma equipa no Kuwait. Foi para lhes dar uma vida melhor, mais confortável, mas não se queixa.

A cumprir a segunda época no Médio Oriente, o treinador de Leiria está, apesar dos quilómetros e dos dias que os separam, “extremamente feliz”. Claro que há diferenças culturais “muito difíceis” de entender, mas também há tanta coisa boa…

A melhor de todas, entende, é o facto de sentir que ganhou o “respeito” de toda a gente.

“O Al-Yarmouk é um dos clubes bons do Kuwait – mas não dos maiores – e apresentou-me um projeto aliciante. Desafiaram-me a praticar um futsal atrativo e, ao mesmo tempo, ir lançando jovens.”

O clube aposta na formação, mas vai perdendo os jogadores que se evidenciam para os maiores emblemas do emirado.

Na época passada, a equipa de Kitó ultrapassou as expectativas: ficou em terceiro no campeonato, chegou às meias-finais da taça e colocou vários jogadores na seleção nacional.

Para esta, traçaram-lhe objetivos semelhantes: “chatear os candidatos e ganhar algum troféu, se possível.”

E se Kitó tem dado muitos ensinamentos na língua universal do futsal, também tem recebido muitas lições de vida.

Uma delas é que aquele respeito que conquistou se traduz, no fundo, na “valorização do que é português”.

Se na temporada passada a comitiva lusa no Al-Yarmouk se resumia a ele, ao adjunto e ao preparador físico do futsal, hoje também o enquadramento técnico da equipa de futebol vem deste cantinho à beira-mar plantado.

São já nove, os compatriotas de Kitó no clube. Vivem todos, de resto, no mesmo prédio. “É a nossa família durante nove ou dez meses O Natal vai ser com eles e se for preciso vou dois andares abaixo ou dois andares acima para falar ou pedir alguma coisa.”

Ainda assim, claro, “as saudades apertam”. Da esposa, dos filhotes e de Leiria, cidade a que o ex-treinador de Burinhosa, Leões de Porto Salvo e Eléctrico de Ponte de Sôr sempre foi muito “agarrado”.

“Há dias muito difíceis, mas é preciso saber aproveitar a tecnologia que tantos problemas traz à nossa sociedade. Falo duas, três ou quatro vezes por dia com a família. Inclusivamente com a minha mãe, que tem 73 anos”, diz Kitó, orgulhoso.

“Sem ser hipócrita”, admite que este sacrifício providencia “o equilíbrio económico” que nunca teve, “sem perder princípio e valores”, e, muito importante, a fazer o que mais ama.

Ainda assim, há choques culturais, até porque o futsal no Kuwait é muito diferente do português. “Tirando a bola, o pavilhão e serem cinco para cada lado, é tudo diferente”, enfatiza Kitó Ferreira.

E explica: “ao intervalo, os jogadores, companheiros e adversários, rezam em conjunto. Por outro lado, o pavilhão é também local de confraternização e come-se, bebe-se e fuma-se lá dentro. Há ainda a questão do Ramadão. Por vezes é um choque, mas a cultura deles não é melhor nem pior do que a nossa.”

Rodeado de “gente boa”, Kitó está “extremamente feliz”.

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