Festa do Futebol Feminino: democratização, acessibilidade e inclusão pelo jogo

Seguindo a boa tradição futebolística, a entrada em campo dos estreantes ficou marcada por uns belos calduços. Nem a professora de Educação Física e treinadora de ocasião do Agrupamento de Escolas Correia Mateus pôde fugir ao batismo.

Foi assim, entre muita alegria, grandes golos, festejos iguais aos dos ídolos, defesas miraculosas e alguns pontapés na atmosfera que decorreu, esta quarta-feira, no Campo da Charneca, nos Pousos, a fase distrital da Festa do Futebol Feminino, uma realização conjunta do Desporto Escolar e da Associação de Futebol de Leiria.

E que festa foi, com seis equipas sub-15 e sub-13 de quatro agrupamentos de escolas – Correia Mateus, Pombal, Guia e CCMI – a marcar presença neste evento que contou com um grupo heterogéneo de 80 meninas, algumas a ter o primeiro contacto com a modalidade, outras federadas e até uma que acabou de ser chamada aos trabalhos da seleção nacional de sub-15.

Mas já lá vamos. O número, entendem os responsáveis, é “interessante” por se tratar do reatar pós pandemia de um evento com alguma tradição, mas querem que a adesão cresça já no próximo ano.

“Tem o objetivo muito importante de estimular a população portuguesa, na perspectiva da igualdade de género, de praticar desporto, neste caso futebol”, começa Manuel Nunes, presidente da Associação de Futebol de Leiria.

“Queremos melhorar a participação feminina no desporto e oferecer uma primeira experiência a quem nunca a teve, para depois encaminhar as alunas-atletas para os clubes locais”, explica David Silva, do Desporto Escolar.

E ali estavam elas, prontas para a ação. Por muito que a experiência fosse pouca, a aplicação de todas foi irrepreensível, com muitos carrinhos à mistura.

Nestas ocasiões, explica Angélica Brites, o mais importante é mesmo dar-lhes uma experiência nova, uma oportunidade de sair da escola e ter um dia diferente a fazer o que mais gostam.

“Estas minhas lindas gostam de jogar futebol, como eu gostava, mas nunca tive oportunidade. Por isso, fazemos tudo para lhes proporcionar estas experiências”, diz a docente do Agrupamento de Escolas Correia Mateus.

Passa a bola, Mariana! Recua, Letícia! Chuta, Salomé! Grande defesa, Francisca! Os técnicos iam dando indicações, bem como as jogadoras – e havia algumas – que praticam futebol federado, ajudando as colegas mais inexperientes a posicionarem-se no campo.

Livres, iam dando largas ao talento.

O futebol feminino tem evoluído muito no país, também no concelho. Esta quinta-feira, de resto, saiu a convocatória da seleção nacional de sub-15 para um estágio em Quiaios e lá estava uma futebolista da Academia CCMI, de seu nome Francisca Alexandre. Essa mesmo, que participou na Festa do Futebol Feminino e que homenageamos com a foto principal desta publicação.

Há mais! Outra rapariga formada na Cruz de Areia, Matilde Nave, também já é internacional e joga no Sporting, apesar de ainda fazer vários treinos em Leiria.

Está-se a crescer, é certo, mas ainda não chega. Cada vez há mais clubes e jogadores, mas por muito que os preconceitos e os estigmas existentes em relação ao futebol feminino “estejam diluídos” e seja, hoje em dia, uma “prática unânime”, ainda há meninas que não podem jogar futebol federado por não ser “bem visto” pela família.

Por incrível que pareça, em pleno 2022, nesta Festa do Futebol Feminino, ainda havia casos desses.

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