São de Leiria, mas pouco se cruzaram na cidade. E isso até se pode explicar pelo facto de terem andado em quatro escolas diferentes. Depois, os percursos profissionais entraram numa rota similar e hoje estão juntos, prontos para voar para o centro da Europa.
Mas já lá vamos. Licenciaram-se todos na área do Desporto e em comum têm o facto de, hoje em dia, laborarem na esfera da deficiência mental, mas em instituições e localidades diferentes.
Marco Ferraz trabalha na Fundação AFID – Diferença, na Amadora, enquanto João Neto é técnico na APPACDM da Covilhã e Pedro Pires na de Castelo Branco. Eduardo Dinis labora na Crinabel, em Lisboa. Juntos, partiram esta segunda-feira para Berlim, na Alemanha.
Integram a comitiva portuguesa para os Jogos Mundiais do Special Olympics, competição que se realiza entre 17 e 25 de junho e onde estão inscritos sete mil atletas de 190 países, em 26 modalidades.
Curiosamente, os treinadores leirienses estão em maioria relativa na comitiva lufa: são quatro num universo de 12. “É realmente engraçado”, diz Marco Ferraz.
Neste, que é considerado “o maior evento mundial de desporto adaptado” destinado aos atletas com deficiência intelectual, Portugal participa com 39 atletas em busca da “melhor experiência possível” de promoção “da inclusão”, muito mais do que de medalhas.
Os desportistas portugueses competem nas modalidades de atletismo, basquetebol, equitação, futsal, ginástica rítmica, golfe, natação e ténis de mesa.
Os treinadores leirienses, que viajam de forma voluntária e com o consentimento das entidades onde são técnicos, serão os responsáveis por quatro destas modalidades: Marco é o treinador de atletismo, João de basquetebol, Eduardo de natação e Pedro de ténis de mesa.
É uma aposta do incremento da prática desportiva para todos como “instrumento de valorização e de inclusão social para pessoas com deficiência intelectual”, salienta Marco Ferraz, enfatizando o facto de o foco estar “nos desportistas e não nos resultados”.
Os jovens, escolhidos com base na observação dos eventos em que foram participando, “vão ter uma experiência única”.
As provas são organizadas numa lógica de integração e de competição entre iguais, o que significa que é implementado o divisioning, com os atletas inscritos em séries com tempos semelhantes.
Se alguém terminar com um tempo superior em 10% àquele com que foi inscrito, é desclassificado, porque devia estar incluído em outro nível.
O fundo, estes quatro leirienses vão ter mais uma aventura neste “desafiador” mundo do desporto para a deficiência intelectual. “Não há duas horas iguais, mesmo que estejamos com as mesmas pessoas”, diz Marco Ferraz.
O processo acaba por ser “intenso e desafiador”. “É um trabalho sem fim. O que está adquirido num dia pode já não estar no dia seguinte”.
Ainda assim, por muito cansativo que possa ser, é um trabalho que lhes enche o coração. “É tão bom vê-los felizes…”