Ouvir o hino no pódio. Em Barcelona. Num dos palcos maiores do desporto automóvel mundial. Ivan Domingues tinha 19 anos e a vitória na corrida sprint da Fórmula 3 parecia confirmar tudo o que já se adivinhava. Mas para o piloto natural de Leiria, não foi um ponto de chegada — foi só mais uma volta.
Este fim de semana, o jovem regressa à competição, em Spielberg, na Áustria, para a sexta de dez rondas do Campeonato do Mundo de Fórmula 3. Representa a Van Amersfoort Racing, equipa neerlandesa que já lançou vários nomes para a elite, e compete num dos campeonatos de acesso ao chamado “Grande Circo”. Está onde queria estar. E sabe exatamente o que o espera.
“Esta vitória significa muito para mim. Fui o primeiro português a vencer uma corrida do campeonato da FIA F3 nos últimos 12 anos. É uma coisa que ambicionava muito. Ouvir o hino no pódio foi marcante”, contou em declarações à agência Lusa, poucos dias depois de subir ao lugar mais alto do pódio em solo espanhol.
Mas o caminho não tem sido fácil. Numa grelha onde se cruzam apelidos como Wurz e Badoer — filhos de antigos pilotos de Fórmula 1 — e onde a margem entre o sucesso e o esquecimento se mede em décimos de segundo, Ivan Domingues vai crescendo corrida após corrida. “Sempre corri nos campeonatos mais fortes da Europa. Este tem a particularidade de ter muito poucas voltas antes de cada qualificação. Os treinos são limitados. Isso causa dificuldades para os estreantes. No início é difícil e os resultados não aparecem.”
E ainda assim, apareceram. Em Barcelona, assinou uma vitória clara na sprint e terminou em sexto na corrida principal, confirmando a evolução. Em Leiria, como noutros pontos do país onde o desporto automóvel raramente rouba atenções ao futebol, os mais atentos tomaram nota. Mas o piloto não deixa margens para ilusões: “O objetivo, embora tenhamos ganho esta corrida, permanece o mesmo. Temos de melhorar a qualificação. Uma décima pode dar 10 ou 15 posições.”
Com a humildade de quem sabe que o talento só chega onde a estrutura permite, Ivan não esconde a realidade: “Não depende só dos resultados, da velocidade e do talento. É preciso um país querer e acreditar. É preciso grandes apoios e que o país e as marcas portuguesas também queiram, tanto para o benefício dos atletas como das marcas.”
Leiriense de nascimento, Ivan Domingues deu os primeiros passos nos karts com oito anos. Cresceu entre pistas e boxes, sem atalhos, e tornou-se presença habitual nos campeonatos mais exigentes da Europa. Este ano, a estreia na Fórmula 3 coincidiu com um calendário partilhado com o Mundial de Fórmula 1 — o que, para um jovem piloto, representa mais do que proximidade: é um vislumbre do que poderá estar para vir.
“É uma honra e um orgulho poder partilhar o mesmo local dos pilotos de F1. Não temos muito contacto porque temos ‘paddocks’ paralelos. De vez em quando vemos um ou outro piloto e vemos os mecânicos e engenheiros”, conta. Para já, é o bastante.
Na Áustria, a qualificação volta a ser decisiva. “Tem poucas curvas. O fim de semana não fica decidido na sexta-feira, mas quase”, antecipa.
Aos comandos de um monolugar de cerca de 400 cavalos, Ivan Domingues partilha pista com pilotos que, como ele, aspiram a dar o salto para a Fórmula 2 e, quem sabe, mais além. No seu radar está Max Verstappen, mas também os McLaren — os que “estão muito fortes” nesta temporada. “Não gosto de subestimar o Max, é uma referência minha e sei quão bom ele é”, diz.
Não há garantias, como ele próprio reconhece. Só a certeza de que vai continuar a aprender, a afinar cada curva e a tentar ganhar, milímetro a milímetro, espaço no futuro que ambiciona. Porque o hino pode ter tocado em Barcelona, mas para Ivan Domingues — e para Leiria — a corrida está longe de terminar.