Aluno aplicado de segunda a sexta e um pequeno terror das pistas ao fim de semana

Como todos os miúdos, Lucas Gaspar anda por estes dias completamente louco com a caderneta do Mundial de futebol, ativo numa imparável troca de cromos. Também aproveita todas as ocasiões possíveis e imaginárias para jogar à bola com os colegas nos intervalos das aulas de 3.º ano, na escola da Caranguejeira.

É um rapaz de oito anos absolutamente normal. Faz tudo como os outros. Contudo, tem um lado que poucos, mesmo na escola, conhecem. Ao fim de semana, veste o fato, mete o capacete e transforma-se em piloto de motociclismo de sucesso. Tanto que acaba de renovar, este domingo, em Braga, a conquista do Troféu de Mini Velocidade Nacional, na categoria minimoto.

Já sabemos que nestas idades as vitórias não são o mais importante. O que realmente interessa é que os mais novos possam praticar aquilo de que mais gostam. Neste caso, contudo, junta-se o útil ao agradável.

E tudo começou porque o pai do petiz da Caranguejeira, Bruno Santos, que pratica motocrosse “por puro ócio”, se apercebeu que Lucas, desde muito novo se mostrava “sempre bastante interessado no barulho da moto”.

Feliz por partilhar a paixão com o descendente, ofereceu-lhe uma minimoto de cross quando fez cinco anos, para assim poderem ir “juntos para o pinhal”. No entanto, quando resolveu colocá-lo numa escola para aprender os rudimentos da modalidade, percebeu que não havia.

A alternativa foi a pista e o alcatrão, através da MM15 Riders Academy, sediada no Funpark, em Fátima, onde Lucas entrou aos seis anos e aprendeu as noções principais.

Bruno Santos estava longe de imaginar que além ter um “bom aluno”, “muito extrovertido”, e com “energia para dar em vender”, tinha também em casa um campeão, mas os resultados não têm deixado dúvidas. Além de ser campeão em Portugal, o rapaz participou ainda na Copa de Espanha e no Campeonato Galego com resultados dignos de realce, e já se aventurou, de forma auspiciosa, em categorias superiores.

Sonha chegar ao MotoGP, é fã de Miguel Oliveira “por ser português”, mas é com o espanhol Marc Márquez que mais se identifica, “pela agressividade” que coloca em pista. E “quando assiste na televisão às provas de motociclismo consegue acompanhar perfeitamente as incidências da corrida e diz logo se um piloto alargou a trajetória, por exemplo”, explica o progenitor.

Claro que ter um filho em cima de uma máquina que atinge os 100 km/h deixa Bruno Santos em stress, apesar de ter noção de que nas classes mais pequenas os riscos são calculados. As “quedas ocorrem muito perto do chão e em deslize” e o piloto utiliza fato de cabedal, capacete, luvas, botas, peitoral e espaldeira.

Mas o prazer de vê-lo a fazer o que mais gosta supera todos os medos. Ainda por cima, não podia acompanhar mais de perto a evolução do filho, já que além de progenitor, amigo, paitrocinador e confidente, ao fim de semana é também mecânico e assistente de Lucas. “Os pais têm aulas de mecânica para aprender a mudar um pistão, um segmento ou uma embraiagem.”

Juntos, são definitivamente mais fortes. E rápidos!