Nélson Pousos: o guardião do relvado que recebe os gigantes da Allianz Cup”

Há histórias que não se escrevem com grandes feitos ou aplausos, mas com dedicação diária. É assim a ligação entre Nélson Pousos e o relvado do Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa, que ele trata há 22 anos como se fosse parte da sua vida. Cada pedaço daquele tapete verde merece o mesmo cuidado que um jardineiro daria às suas flores mais delicadas.

Na véspera de uma final de peso como a da Allianz Cup, entre Sporting e Benfica, o estádio ganha a sua habitual agitação, mas durante a semana o relvado é todo dele. Não há multidões, só o som das máquinas que ele opera com precisão e, aqui e ali, o canto de algum pássaro. É assim, no silêncio, que ele cuida do espaço que considera quase como família. Chamam-lhe o “Cristiano Ronaldo dos relvados”, mas Nélson, com a humildade de quem trabalha no invisível, só se importa em garantir que tudo está pronto para o espetáculo.

Com mais de duas décadas de experiência, Nélson já passou por desafios de todo o tipo. Concertos, tempestades ou jogos seguidos nunca o fizeram falhar. Sempre encontrou forma de recuperar o relvado e mantê-lo impecável. Às vezes, até fala com a relva, como se fosse viva: “Já te chateei muito, agora descansa.” Para quem passa mais tempo no estádio do que em casa, não é difícil entender o carinho que sente pelo trabalho.

Os momentos que o marcaram são simples, mas significativos. Como aquele dia em que Filipe Cândido, treinador da União de Leiria, dedicou uma palestra ao esforço dele, após Nélson recuperar o relvado de um concerto num sábado para um jogo no domingo. “Foi uma coisa que nunca vou esquecer”, admite.

Nos dias de competição, como a deste sábado, que junta Sporting e Benfica, sente a pressão aumentar. “Estão mais pessoas de olho e nada pode falhar”, diz ele. Mas não há espaço para falhas. A relva, garante, “vai estar 5 estrelas”, mesmo depois de duas meias-finais disputadas em tão pouco tempo. Ele conhece o relvado como ninguém, sabe quando a chuva ajuda mais do que a rega e controla cada detalhe, dos “22 milímetros” da relva até ao estado do solo.

Ao longo dos anos, viu grandes nomes pisarem o campo que prepara com tanto cuidado, como Zidane e Cristiano Ronaldo. Já ouviu pedidos de treinadores, como Jorge Jesus, para deixar a relva mais alta ou regar certas partes para dificultar a vida aos adversários. Hoje, isso já não é permitido, mas o orgulho de ver o relvado receber grandes artistas, ou até jogadores das divisões inferiores, mantém-se intacto.

No final de cada dia, quando o estádio está vazio e o silêncio retorna, Nélson olha para o relvado com satisfação. Foi ali que colocou o seu esforço. “Passo mais tempo aqui do que em casa”, admite, mas sem arrependimento. Para ele, cuidar da relva não é apenas um trabalho. É criar um palco onde a história acontece.

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