Guilherme Outeiro: a cuidar de um carro ganhador há sempre um mecânico extraodinário

É no momento em que a competição termina e os carros se calam que Guilherme Outeiro mete as mãos na massa. Quando o nível de adrenalina de pilotos e navegadores baixa, o dele sobe. Tudo tem de estar pronto, no mais curto espaço de tempo, para o veículo voltar para a estrada ou para os trilhos nas melhores condições e o mais afinado possível. A este nível o único objetivo é ganhar.

Aos 28 anos, o mecânico de Leiria é, já, o chefe de carro de Armindo Araújo, tão somente o campeão nacional absoluto de ralis em título. Profissional há seis anos, Guilherme Outeiro é o grande responsável por que nada falhe quando o piloto português, antigo campeão mundial de produção, resolver acelerar.

É um mundo de muita emoção, muito stress, muitas noites sem dormir, porque o relógio dita a hora a que tudo tem de estar pronto e não há lugar para atrasos. De frontal na cabeça, prepara o carro para o dia seguinte. “Sou viciado nas corridas e quero ser sempre o melhor. O meu objetivo é ganhar tudo onde me envolvo”, explica o mecânico.

Não se pense, contudo, que com este nível de profissionalismo o “desenrasca” ou o “improviso” têm lugar. Bem pelo contrário.

Valores inegociáveis

“Tem de haver método e 200% de conhecimento. Já montei e desmontei o carro centenas de vezes. Conheço todas as anilhas e todas as porcas”, atira o mecânico responsável pelo Skoda Fabia do campeão nacional.

“Organização”, “exigência” e uma “grande paixão” são valores inegociáveis para assumir uma profissão destas. Esse entusiasmo chegou-lhe por via do progenitor, José Outeiro, um antigo piloto. Não sabe se é do barulho dos carros ou da velocidade estonteante, mas ainda hoje, sempre que têm um fim de semana livre, Guilherme e o irmão Eduardo entram em provas ao volante do clássico BMW e deixam o pai a sorrir.

Foi, pois, em volta dos carros da família que nasceu, de forma natural, a curiosidade pela parte mecânica. Queria saber como tudo funcionava”, explica Guilherme Outeiro. “Comecei como aprendiz de mecânico numa oficina privada em Leiria. Saía das aulas e ia para aprender a montar e construir carros de corrida com o Paulo Faria, que era o mecânico dos carros de corrida do meu pai. Foi ele quem me ajudou e ensinou as bases que tenho de mecânica.”

No ano passado, quando Guilherme passou a ser o chefe de carro do Armindo Araújo, pôde escolher a equipa de mecânicos. Quem é que ele foi buscar? O “mestre” Paulo.

Experiência no Dakar

No início deste ano, foi também chefe do carro do leiriense Ricardo Porém nos desertos da Arábia Saudita. “Desde pequeno que lhe dizia que um dia ia fazer o Dakar com ele. Em agosto perguntou-me se gostava de ficar responsável pelo carro dele na edição deste ano. Sendo uma corrida única, a minha equipa abriu a porta e fui.”

Foram 15 dias “fabulosos”, mas “duríssimos”, dos pontos de vista “físico” e “psicológico”. “Ultrapassei os meus limites. As primeiras cinco noites não dormi e nem sequer abria a tenda . O carro tinha problemas de juventude e trabalhávamos durante a noite e de dia andávamos de acampamento em acampamento,”

Depois de muito trabalho, as coisas começaram a correr melhor e Ricardo Porém chegou a levar o Yamaha X-Raid YXZ 1000 R Turbo à vitória numa etapa. Aí, já dormiu “qualquer coisa” e pôde desfrutar. “Perdi seis quilos, mas ganhei know-how fabuloso e recebi propostas excelentes.”

Os dias estão agora mais calmos, mas não muito. Para a semana há Rallye Serras de Fafe e Armindo Araújo quer voltar a brilhar nesta prova pontuável para o Europeu. Da parte que toca a Guilherme já sabemos: pode ficar descansado.