Na sua cidade, Rui Patrício é figura de proa. Tem uma estátua, um mural, até um sabor de gelado e é embaixador de Leiria, a melhor Cidade Europeia do Desporto de 2022.
O discreto – mas eficaz – Rui Patrício está no terceiro Mundial de futebol da carreira e mesmo que a titularidade já não seja uma garantia como foi durante mais de uma década, o lugar na história da seleção nacional já ninguém lhe tira. É possível alguém esquecer aquela defesa na final do Euro’2016 na sequência de um cabeceamento de Griezmann?
É esse o momento eternizado na estátua de bronze, de quatro metros de altura, que adorna a entrada na zona desportiva da cidade, oferta do emigrante Carlos Matos.
O percurso pela equipa das quinas, esse, começou seis anos antes, a 17 de Novembro de 2010, num particular com a Espanha em que Portugal goleou (4-0). Rui Patrício entrou ao intervalo para substituir Eduardo. Depois, foi sempre a subir.
Foi ganhando estatuto e teve papel de destaque no título de campeão europeu e na vitória da Liga das Nações. Entretanto, alcançou a centésima internacionalização, entrando num grupo de notáveis onde só cabem lendas como Cristiano Ronaldo, João Moutinho, Luís Figo, Pepe, Nani e Fernando Couto.
Agora, Rui Patrício está no Qatar para jogar a sétima grande competição internacional, já que também conta com quatro Europeus no currículo. É um percurso de excelência para o guarda-redes da Roma, clube treinado por José Mourinho onde, na temporada passada, ganhou a Conference League.
Um trajeto ´que “até custa acreditar” para quem com ele privou nos primeiros anos de vida. Fosse na Matoeira, terra da mãe Belisa, onde residia, ou nos Marrazes, onde começou a jogar à bola, seguindo os passos dos cinco tios e do pai, Rui, como ele.
Um dos companheiros, contudo, deve estar particularmente orgulhoso. Chama-se Hélio Vieira e Portugal tem para com ele uma dívida eterna.
Foi com esse mesmo Hélio que o então Rui Pedro, um extremo esquerdo que “gostava pouco de correr”, trocou e assentou praça entre os postes. E tudo aconteceu porque Hélio, que tinha adormecido e chegado tarde aos jogos, estava inconformado por ter perdido o prémio de melhor guarda-redes num torneio de infantis do Leiria e Marrazes para um miúdo do União de Coimbra. A decisão foi radical: largou o posto para todo o sempre.
Mas, antes de se despedir, tinha de arranjar alguém para o substituir e lá convenceu um colega mais novo a ocupar a vaga entre os postes. Eram praticamente vizinhos, um era das Chãs e o outro da Matoeira.
Chegou ao treino e disse ao mister João Rocha que tinha arranjado uma solução. “Foi tranquilo, porque ele também estava descontente”, recorda Hélio Vieira. “Cansava-se muito, jogava pouco e começou a desmoralizar. Foi fácil convencê-lo.”
Como se diz em futebolês, pegou de estaca, até porque era alto e “defendia 70% dos penalties”. O Sporting observou-o num torneio em Pataias, tinha 11 anos, e o resto da história de “Mula”, “Marrazes” ou “Rui Pedro” toda a gente conhece.
Foto: FPF