Ainda não tinha chegado a hora, e o Miguel, o Martim e o Afonso já andavam pelo relvado, a correr, a saltar, a rebolar e também a chutar, caso uma bola aparecesse pela frente. Cheios de energia e livres, como as crianças devem ser, sem demasiadas amarras, como defende o nosso conterrâneo Carlos Neto, um dos maiores especialistas mundiais na área da brincadeira e do jogo e da sua importância para as crianças.
Para este professor Catedrático da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa (UL), “primeiro brinca-se, depois joga-se e só depois se pratica desporto”. E assim foi este sábado, no Campo do Outeiro, no decorrer da primeira iniciativa do Futebol a Brincar, da Associação Cultural e Recreativa da Maceirinha, inserida no programa ABC do Futebol, da Associação de Futebol de Leiria.
Estas palavras sempre tiveram em Simão Cardoso um ouvinte atento e agora, que coordena a formação do clube da freguesia da Maceira e acabado de frequentar uma formação da Federação Portuguesa de Futebol sobre o tema, tenta levá-las de forma consciente e estruturada para os escalões mais jovens dos mais jovens. E foi ver os miúdos a divertirem-se à grande com o mais variado lote de brincadeiras possível, sempre com alguma ligação ao futebol.
Esta rapaziada tem 5 e 6 anos e, entende Simão Cardoso, “ainda não apresentam competências físicas e cognitivas para estar em jogo”. “Há clubes que já têm os miúdos daquela idade a jogar, quando a maioria ainda não tem capacidade de partilhar a bola ou a baliza”, sublinha o treinador.
Vai daí, pôs os 30 miúdos presentes, do clube da casa, da União de Leiria, dos Unidos do Casal dos Claros e Coucinheira, da União Desportiva da Batalha e do Grupo Desportivo da Ilha a treinar uma série de “habilidades motoras” que os “aproximam do jogo”, naquela hora de absoluta diversão.
Os pais entraram em campo, sim, mas apenas no momento da fotografia para a posteridade
A ACR Maceirinha mostrou, pois, aos clubes convidados, os exercícios que as crianças, por norma, mais gostam. Claro que é todo um processo de mudança de mentalidades que está em causa, sem nunca se poder pensar que se tem um craque em casa, até porque, convém recordar, o número de miúdos destes que chega ao futebol profissional é meramente residual.
Depois de correrem, saltarem, enrolarem, rastejarem, fazerem exercícios de coordenação com remate e jogarem à apanhada, o Bernardo, o João e o António estavam cansados, mas felizes. Mas mais felizes estariam se fizessem todas estas atividades com os pais. Sim, “integrar os pais no processo de treino, nestas idades, é também um objetivo”. Ainda existe alguma relutância, é bem verdade, mas é para lá que se caminha. Pelos menos, já entraram em campo para a fotografia.
20 de fevereiro de 2024
Campo do Outeiro | Maceirinha