Filipe Gomes vai ao Mundial do Japão para honrar a querida Leiria e o amado Malawi

O orgulho em representar as origens é “enorme” e até sente “borboletas no estômago” só de pensar no que está para chegar. Filipe Gomes reside desde criança em Leiria, mas está de partida para Fukuoka, no Japão, onde vai nadar pela sétima vez em Campeonatos do Mundo com as cores do Malawi, terra onde nasceu, lugar que muito ama e que quer honrar até ao limite das suas forças.

Mas vamos ao início. A história do atleta do Clube Náutico de Leiria, de 26 anos, começa quando os avós maternos se mudaram para África, ainda jovens. O avô abriu uma oficina de bate-chapas, integrou-se na comunidade e construiu família. A terceira geração já nasceu naquele ambiente. O rapaz, de resto, sempre adorou os petiscos da avó, um twist entre comida portuguesa com ingredientes africanos.

O que nunca podia faltar era o nsima, um prato à base de farinha de milho, na forma de um puré branco. Constitui a base da alimentação quotidiana e é, desde 2017, Património Cultural Imaterial da Humanidade. “A minha avó faz muito com caril de frango e aquele molho em cima do nsima fica delicioso.”

Foi no lago Malawi, ou Niassa, um dos maiores do mundo, que Filipe começou a nadar. “Ia sempre com colete, mas houve um dia em que me atiraram para dentro de água e fui a nadar à cão até ao meu pai.” Jamais imaginaria que seria o prelúdio para uma carreira internacional, mas foi mesmo.

Tinha 10 anos quando Filipe se mudou, com os pais, para Leiria. Teve de se adaptar à língua e ainda hojetem um ligeiríssimo accent na língua oficial daquela antiga colónia britânica que lhe adoçica as palavras.

Antes, aos 7 anos, tinha começado a nadar nas piscinas locais, pelo que a adaptação a Portugal também foi muito feita dentro de água. “Destacou-se muito rapidamente. Era pequenino, mas muito ágil. O trabalho de base de formação dele foi muito bem feito”, assegura João Paulo Fróis, o treinador desde então.

Até que uma vez, em 2015, estava a falar sobre o facto de ter dupla nacionalidade no ginásio quando Nuno Santos, então colega no Bairro dos Anjos, atirou: “e se começasses a competir pelo Malawi?” Entrou em contacto com a federação malawiana, que correspondeu ao interesse.

Foi uma boa ideia. Hoje, Filipe Gomes tem a participação nuns Jogos Olímpicos, em Tóquio, em 2021, no currículo e já vai para os sétimos Mundiais no currículo e seguem-se os Jogos Olímpicos.

Os primeiros lugares podem ser uma miragem, mas não é isso que o faz abrandar. Filipe Gomes parte para Tóquio com o objetivo de estabelecer novos recordes nacionais nas provas em que vai nadar, os 100 metros livres e os 200 metros estilos, a 26 e 27 de julho, respetivamente. Na verdade, já lhe pertencem, como mais de 30 outros. Praticamente todos, na verdade.

É o resultado do esforço árduo que diariamente faz no Complexo Municipal de Piscinas de Leiria. “Nunca se nega ao trabalho”, enfatiza o treinador.

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