Odete Fiúza foi a sete Jogos Paralímpicos, mas o maior troféu é o reconhecimento de sua gente

Quando saiu de Leiria, há coisa de três décadas, Odete Fiúza nem sequer gostava de correr, quanto mais pensar competir em sete edições dos Jogos Paralímpicos.

Rumava então a Lisboa para frequentar o curso de Direito com a noção perfeita que, apesar da deficiência visual, era uma mulher de plenos direitos.

“Sofria muito a correr”, mas a atividade ajudou-a nessa integração e, hoje, depois de “aprender a gostar”, já não admite passar sem ela.

“Tornou-me uma pessoa mais feliz, de bem com a vida e recompensada.” Sublinha que “é um excelente veículo de inclusão”.

Este domingo, no Dia do Município, Odete Fiúza, de 49 anos, foi homenageada pela autarquia com a Medalha de Mérito Municipal de Grau Ouro.

Agradeceu, em primeiro lugar, o papel que “alunos e professores” das escolas de Souto do Meio, D. Dinis e Francisco Rodrigues Lobo tiveram na sua vida.

“Souberam acolher-me de forma inclusiva e contribuíram para a mulher, a desportista e a profissional que sou hoje”, enfatizou.

Sobretudo, não esquece o papel da família que, no “contexto de província” de Quinta dos Frades, Santa Eufémia, “percebeu que precisava de proporcionar condições de igualdade e de oportunidades” que a deixasse a par das outras crianças.

Licenciada em Direito e advogada do Instituto Nacional para a Reabilitação, Odete Fiúza conquistou ao longo dos anos um currículo de ouro.

É verdade que estar em sete Jogos Paralímpicos já não é para qualquer uma, mas ter sido recordista mundial e somar 18 medalhas em Europeus e Mundiais torna-a um caso raro de longevidade e talento.

Só faltou chegar ao pódio na mais importante das competições. Em Sydney’2000 ficou perto, tendo sido quarta nos 5.000 metros e quinta nos 1.500 metros.

“Naturalmente todos sonhamos com uma medalha nos Jogos Paralímpicos, mas considero que fiz o que estava ao meu alcance.”

Apesar de todas estas distinções, não teve dúvidas em afirmar que esta medalha entregue em mão pelo vereador do Desporto, Carlos Palheira, tem um significado “especial”.

“Representa o reconhecimento da minha gente, a ligação às minhas origens e reforça o meu sentimento de pertença.”

É, de resto, em Leiria que se sente “em casa” e regressa sempre que pode. “São estes os lugares da minha vida.”

Odete Fiúza, um dos membro fundadores da Associação Portuguesa de Atletas com Deficiência, não pensa parar.

Depois do sexto lugar na maratona dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, disputada no ano passado, já tem lugar reservado para a Taça do Mundo da distância, a 2 de outubro próximo, em Londres. E muito mais se seguirá, com certeza.

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