Estes avós têm queda para o judo

A dona Guilhermina, toda arrebitada, chega ao tatami disposta a mostrar o que aprendeu ao longo deste tempo. Gosta muito do treinador, que os mete a fazer “exercícios difíceis”, como “atirarem-se para o chão”, mas considera que é um “desafio que vale a pena”.

Sente que está hoje muito melhor do que há seis meses, quando o projeto Avós do Judo começou. “Há 18 anos tive um AVC e fiquei sempre com o braço direito dormente, mas quando faço estes exercícios chego em casa e sinto-me bem. Aliás, sinto-me muito melhor”, garante a atleta sénior que já cumpriu as 84 primaveras e que pertence ao grupo da Bajouca.

Esta iniciativa do Judo Clube da Marinha Grande, que se estendeu para o concelho de Leiria com o apoio do Município, visa a prevenção e combate a um “flagelo”, as quedas, por via da estimulação e promoção do equilíbrio, coordenação e flexibilidade, potenciando o conhecimento de como cair corretamente através da prática de judo.

E é isso que o treinador Pedro Folgado os mete a fazer: depois, familiarizam-se com quedas, quedas e mais quedas.

No total, três centenas de atletas seniores de mais de duas dezenas de instituições do concelho tiveram acesso a, pelo menos, uma aula de judo por semana, nos três núcleos criados no território: Colmeias, Pousos e Carreira.

Margarida Pedroso é a coordenadora do projeto e considera que o “desbravar, no início, foi o mais difícil”. “Inovação é isto. Nunca ninguém tinha feito e não sabíamos como se fazia. No início, nem podíamos dizer a palavra judo, que era uma ginástica adaptada, mas depois a disposição foi mudando.”

E constata hoje que a diferença do estado geral dos atletas seniores “é brutal”. “Vemos como eles entraram e como estão. Muitos deles diziam-nos que não se sentavam no chão há mais de 20 anos.” Hoje, até parece fácil.

“Damos muito o exemplo do senhor Zé, que entrava de bengalinha e dizia que não fazia. Depois, combinou que fazia cinco minutos. A partir daí, o senhor Zé entrava e largava a bengala. Como a dona Maria de Jesus, que a mandava para longe.”

Com o pretexto da prevenção de quedas, providenciaram uma grande melhoria da qualidade de vida destes idosos. “As próprias instituições nos dizem que estão totalmente diferentes. Não se calçavam, não se sentavam sozinhos e agora já fazem tudo.”

É o caso do senhor Manuel, da Bajouca. “São exercícios que custavam a fazer, não estávamos habituados, mas agora é fácil. Tinha muita dificuldade em sentar-me e agora já consigo. Sinto-me muito mais confortável”, conta, não poupando nos elogios ao treinador. “É um espetáculo. Diz umas coisas e a gente ri-se…”

Há boa disposição, que tristezas não pagam dívidas, mas o trabalho é feito com todo o rigor possível, explica Pedro Folgado. “Percebemos que o fundamental está lá: proteger a cervical e a cabeça, e não se magoarem. E não há nada que nos faça mais felizes do que ver os sorrisos quando percebem que conseguem fazer.”

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