Com 300 atletas, cinco funcionários a tempo inteiro e dezenas de treinadores a recibo verde, a Juventude Vidigalense é, hoje, uma verdade "fábrica de talento".
Contudo, foi criada em 1986, quase por acaso, quando Paulo Reis, Carlos Santos e Sérgio Ferreirinho foram do Vidigal a Leiria de bicicleta para participar numa corrida.
“Um grupo de malta nova, de 13, 14 e 15 anos, encontrava-se perto da capela da aldeia a conversar e deparou-se com um panfleto a anunciar uma prova integrada na inauguração do Centro Comercial Maringá”, recorda Paulo Reis.
“Quando fomos inscrever-nos pediram o nome do clube que representávamos. Rapidamente improvisámos: Juventude Vidigalense.” Assim surgiu o melhor clube português de formação em atletismo.
Destes atletas, contudo, não ficaram grandes registos. “Éramos todos coxos e ainda bem que assim foi, porque se fossemos bons algum clube tinha ido buscar-nos e o clube nunca teria tido continuidade.”
Desde o início que Paulo Reis tomou conta. “No princípio treinava toda a gente. Pode dizer-se que fazia uma animação desportiva daquela malta. Não percebia de nada, mas treinava todos.”
Teve, até, de conviver com o ceticismo do pai. “Na altura tinha de ajudar no campo, a semear batatas, a regar… Nunca me cortou as pernas, mas não achava grande lógica.”
Apaixonado e interessado, Paulo Reis apostou na formação. Evoluiu, cresceu e hoje tem um currículo inigualável, com destaque para as cinco participações olímpicas.
Foi precisamente com Vânia Silva, atleta que em 2004 chegou aos Jogos Olímpicos com a camisola da Juventude Vidigalense, que tudo passou a ser visto noutra perspectiva.
Devagar, o clube foi crescendo, beneficiando em grande medida das competições de exceção que a cidade oferece para o atletismo.
Exemplo disso são a pista de tartan do Estádio Municipal e o Centro Nacional de Lançamentos, infraestrutura municipal gerida pelo emblema.
Hoje, a Juventude Vidigalense é a grande potência nacional dos escalões jovens. Pode, até, orgulhar-se de ter formado três atletas olímpicas: as lançadoras Vânia Silva e Irina Rodrigues, e a saltadora Evelise Veiga.
Em todos os escalões etários a qualidade do trabalho é comprovada nas competições nacionais, com diversos títulos individuais e coletivos conquistados.
Já esta época, por exemplo, as equipas femininas de sub-18 e sub-20 subiram ao lugar mais alto do pódio no Campeonatos Nacionais indoor. Já os seniores disputam ininterruptamente a 1.ª Divisão.
Mas o clube é muito mais do que uma mera escola de atletismo. Nos últimos anos, tem apostado na organização de grandes eventos internacionais.
Exemplo disso é a Taça dos Clubes Campeões Europeu de Juniores e, mais importante, a Taça da Europa de Lançamentos, que nos dias 12 e 13 de março se vai realizar pela quinta vez na cidade, sendo que também está comprometida para 2023 e 2024.
A presidente, Tânia Vieira, não esconde o orgulho na equipa que dirige. "A Associação Europeia de Atletismo tem total confiança em nós. Sem sermos profissionais, conseguimos fazer e fazer bem, de forma profissional."
Até porque, garante, o feedback é muito positivo. "Estivemos a falar com os atletas finlandeses que nos pediram para continuarmos a organizar a prova. Gostam da cidade, do clima, das instalações e têm sempre vontade de voltar."
E pensar que tudo começou numa brincadeira de crianças…
Estádio Municipal de Leiria